Processo de Transição do IPv4 para o IPv6 em uma Entidade Governamental na Costa Rica
15/04/2025

Escrito por Andrés Cortés*
A Prefeitura de Carrillo é um governo local da Costa Rica localizada no Cantón de Carrillo, distrito de Filadelfia, que concluiu, em meados de 2023, o processo de transição e implementação do protocolo IPv6 em sua infraestrutura de Tecnologias da Informação e Comunicação. Isso foi feito com base no modelo Dual Stack (Pilha Dupla), com o objetivo de enfrentar o problema do esgotamento do protocolo IPv4 na região, bem como para atender ao marco regulatório emitido pelo Ministério da Inovação, Ciência, Tecnologia e Telecomunicações (MICITT) referente às instituições do governo central da Costa Rica. A medida visa garantir a continuidade dos serviços de comunicação internos e externos (rede privada institucional e conexões de internet de diversos provedores).
Levando em consideração, também, que esse processo de migração traz consigo uma série de vantagens e benefícios que fortalecem as infraestruturas tecnológicas do Estado, potencializando a cadeia de valor público sobre o portfólio de serviços oferecidos aos clientes internos e externos, e ao mesmo tempo permite alcançar um alto grau de maturidade em relação às tendências globais de conectividade e digitalização.
Estrategicamente, esse tipo de projeto pode ser planejado em fases, seguindo a metodologia do “dividir para conquistar”, com o objetivo de sistematizar o processo de transição do protocolo IPv4 para o IPv6 de forma gradual e assertiva. É extremamente importante destacar a recomendação de adquirir o pool de endereçamento IPv6 diretamente com o Registro Regional da Internet, ou Regional Internet Registry (RIR).
Estratégias e Fases do Processo de Implementação
Isso com o objetivo de não gerar qualquer tipo de dependência em relação a um Provedor de Serviços de Internet (ISP) local que forneça o pool de endereçamento IPv6 a ser configurado (interna e externamente). Portanto, essa ação estratégica permite alcançar autonomia na gestão do pool de endereçamento adquirido, sendo que o(s) ISP(s) que a organização desejar contratar deverão apenas realizar o anúncio no nível do BGP. Além disso, caso o contrato com um ISP seja encerrado, isso não implica nem obriga a alteração do endereçamento nos dispositivos e elementos de configuração da infraestrutura de rede interna e externa.
A seguir, são detalhadas cada uma das fases realizadas na implementação do IPv6 na prefeitura, juntamente com recomendações para alcançar o sucesso no processo de transição:
Fase #1: Transferência de conhecimento
Independentemente de o projeto ser executado pela equipe técnica interna da organização ou por meio da terceirização de um serviço de implementação ou consultoria, é extremamente importante — e essencial para o sucesso — realizar um processo de “Transferência de Conhecimento” que aborde basicamente os seguintes temas:
- Aspectos básicos do IPv6
- Endereçamento IPv6
- Roteamento em IPv6
- Configuração de serviços de infraestrutura crítica de TIC
- Comparativo IPv4 – IPv6
- Configuração básica de IPv6 em dispositivos finais
Com o objetivo de capacitar a equipe técnica da organização a fim de que tenha conhecimentos suficientes para uma tomada de decisão assertiva durante a implementação, além de desenvolver habilidades relacionadas à configuração do protocolo IPv6, bem como ao suporte e à manutenção após a conclusão do processo de transição.
Fase #2: Diagnóstico e Planejamento

Na fase de diagnóstico e planejamento realizada na prefeitura, foram desenvolvidas as atividades descritas no gráfico, as quais resultaram no Plano de Implementação detalhado que foi concretizado na fase seguinte do projeto.
Fase #3: Implementação

Para realizar o processo de implementação na prefeitura, foram realizadas as atividades descritas no gráfico, as quais resultaram em um documento com enfoque técnico que detalha todas as configurações realizadas em nível de hardware, software, serviços e elementos de configuração, garantindo que a organização opere plenamente sob o protocolo IPv6, considerando os padrões de segurança e funcionalidade definidos pela prefeitura.
Entre os fatores-chave identificados para o sucesso da implementação, destacam-se:
- Ter contratos de manutenção e suporte vigentes com os fornecedores de infraestrutura crítica.
- Tempos de resposta eficazes por parte dos fornecedores de infraestrutura crítica, com base nos SLAs definidos.
- Suporte eficaz por parte dos Provedores de Serviço de Internet (ISP).
- Assessoria e acompanhamento de especialistas – neste caso, foi contratada uma empresa especializada no assunto para conduzir o processo de transição.
- Equipe técnica interna qualificada, capacitada e comprometida com o projeto, participando ativamente de todas as atividades.
- Consciência e boa atitude da equipe técnica interna, pois ao adotar o modelo “Dual Stack” – Pilha Dupla, é necessário ajustar os processos, aplicar ambas as configurações nos equipamentos e realizar diagnósticos em ambos os protocolos, o que aumenta a carga de trabalho de suporte e manutenção.
- Projetar e realizar um teste piloto em um ambiente controlado, em segmentos de rede selecionados, com usuários representativos que permitam avaliar o funcionamento normal dos serviços e aplicações, tanto internamente quanto externamente, sob o modelo IPv6 only.
- Ativar políticas de segurança específicas para o protocolo IPv6 em todos os principais elementos de configuração, como firewalls, servidores, ambientes de virtualização, dentre outros, a fim de não expor vulnerabilidades.
Fase #4: Testes e monitoramento
Após a conclusão bem-sucedida das fases anteriores, para finalizar completamente o processo de implementação do protocolo IPv6 na prefeitura, foi realizado um processo de validação, otimização e documentação das configurações e serviços sob o novo protocolo. Nesse processo, foram realizados testes e monitoramento da funcionalidade do IPv6, verificando se os sistemas de informação, dispositivos de armazenamento, equipamentos de comunicação e serviços estão operando corretamente, permitindo o tráfego IPv6 de e para a Internet.
Em seguida, foram realizados testes de funcionalidade do protocolo IPv6 relacionados às políticas de segurança perimetral acordadas, incluindo: servidores, serviços e dispositivos de comunicação, com o objetivo de identificar vulnerabilidades e documentar os resultados.
Esta fase nos permitiu realizar um refinamento das configurações feitas em nível de hardware, software, serviços e elementos de configuração, ajustando os parâmetros necessários para otimizar o desempenho e garantir a estabilidade dos equipamentos e plataformas.
E por fim, algo muito importante a destacar como resultado dessa última fase foi a atualização do inventário de serviços, dispositivos físicos, aplicações e sistemas de comunicação, refletindo o estado final dos ativos de informação sob o esquema do IPv6.
Conclusão
Realizar o processo de transição do protocolo IPv4 para o IPv6 no âmbito das instituições públicas do Estado costarriquenho é extremamente importante para garantir:
*Escalabilidade: o IPv6 resolve o problema do esgotamento de endereços IPv4, pois oferece uma quantidade praticamente ilimitada de endereços IP, permitindo a incorporação transparente de novos dispositivos em redes estaduais.
*Resiliência: o IPv6 oferece mecanismos mais eficientes para potencializar os processos de continuidade, eficiência e modernização dos serviços tecnológicos no setor público.
*Segurança: o IPv6 melhora a proteção dos dados transmitidos na rede, além de incluir recursos de segurança nativos e permitir o uso de um conjunto de regras ou protocolos de comunicação para configurar conexões seguras através de uma rede.
*Eficiência operativa: o IPv6 melhora significativamente o gerenciamento do tráfego na rede com características avançadas de autoconfiguração e roteamento mais eficiente.
* Projeção futurista: ao adotar o IPv6, as instituições governamentais contarão com mais recursos técnicos para implementar tecnologias emergentes, como a Internet das Coisas (IoT) e sistemas de cidades inteligentes.
Por essas razões, realizar a transição para o protocolo IPv6 nas organizações que fazem parte do Estado costarriquenho não é apenas uma necessidade técnica, mas sim uma decisão de caráter estratégico para impulsionar a soberania e a neutralidade tecnológica, melhorar a qualidade dos serviços públicos e assegurar a participação do país na economia digital global. Esse processo promove a inovação, garante a sustentabilidade tecnológica do Estado e consolida a Costa Rica e demais países da América Latina e do Caribe como referências em modernização tecnológica na região.
* Selecionado como Embaixador de P&D na convocatória de 2024
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