Ricardo Patara: “LACNOG já é protagonista da comunidade da Internet da região”
01/08/2014
O Grupo de Operadores de Rede da Região da América Latina e o Caribe, LACNOG, tem virado um ator fundamental no desenvolvimento da Internet na América Latina e o Caribe. Nascido como um fórum de discussão para a troca de informações entre especialistas, esse grupo tornou-se uma fonte de conhecimento para toda a comunidade da região no que refere à operação de redes.
Ricardo Patara, chair de LACNOG, prepara a próxima reunião dessa comunidade no Chile (outubro) no momento em que a região se encontra perante uma oportunidade única para realizar a implementação do IPv6. “Contamos com a vantagem de ser uma das regiões mais “novas” na indústria e por isso devemos começar os planos de redes levando em conta esse novo protocolo”, afirmou Patara.
Patara falou em diálogo com LACNIC News desse e de outros assuntos.
Como tem sido o crescimento de LACNOG, a comunidade de operadores de rede da América Latina e o Caribe? Quantas organizações e profissionais fazem parte hoje de LACNOC na região?
LACNOG tem crescido de uma forma exponencial. Começamos como uma lista de discussão e logo depois com uma reunião em São Paulo (Brasil) em 2010 conjuntamente com o LACNIC e o grupo local de operadores de redes no Brasil.
Hoje, depois de mais de três anos, LACNOG passou a ser protagonista e tem uma reunião anual como evento principal na questão de operação de redes. Na sua última reunião em 2013, mais de 400 pessoas participaram da mesma.
A lista de discussão, além da reunião, continua como uma ferramenta importante para solucionar problemas e trocar conhecimentos. E ela também tem crescido de modo importante. Já somos mais de 800 pessoas cadastradas (*)
Quais são os principais problemas ou pontos críticos detectados nas redes da região? A coordenação regional tem conseguido diminuir os problemas que os operadores devem enfrentar?
Os problemas que um operador de redes na região “enfrenta” no seu dia-a-dia são similares aos dos operadores de outras regiões. E por isso é tão importante a coordenação e troca de informações nesses grupos.
Podemos salientar alguns desses problemas que são discutidos nas listas como, por exemplo, IXP, roteamento seguro, sequestro de prefixos de redes, spam e implementação do IPv6.
A troca de conhecimento sobre, por exemplo, a implementação do IPv6 tem ajudado muitos outros provedores a implementar esse novo protocolo em suas redes ou pelo menos a iniciar um plano levando em conta o mais adequado e experimentado por outros.
Já não há mais endereços IPv4 e agora o grande desafio é usar IPv6. A região está preparada? Tem sido realizado o esforço suficiente para impedir o freio do desenvolvimento da Internet?
A região da América Latina e o Caribe ainda não está completamente preparada para o IPv6. Mas também não estamos tão atrasados se compararmos com outras regiões. Existem casos, por exemplo, de provedores no Peru que já aparecem em estatísticas internacionais com alto nível de tráfego IPv6 nativo.
Os esforços existem tanto na comunidade de operadores quanto em organizações chave dentro da região, como o LACNIC, a ISOC, e outras, que têm conduzido treinamentos, elaborado documentos, etc.
O que se vê é que o marco do esgotamento do IPv4 não tem freado a Internet. Ela continua a crescer em número de usuários, provedores, serviços e aplicativos. Mas, se nós não adoptamos as medidas necessárias para armar o IPv6 o mais rápido possível, esse crescimento vai ter um “custo” maior.
Nossa região tem uma vantagem que é a de ser uma das mais “novas” nessa indústria e por isso tem a oportunidade de começar planos de suas redes levando em conta esse novo protocolo. Tanto na compra de equipamentos quanto no desenvolvimento de sistemas e capacitação de seus profissionais.
Em sua opinião, tem sido alcançado o nível desejado de conectividade na América Latina e o Caribe?
Eu acho que sim. Há tempo, o principal meio de interconexão de redes em diferentes países da região era realizado através de enlaces em Miami/ USA.
Hoje, mesmo que ainda existam redes conectadas através desses enlaces, há outras redes já em operação com o objetivo de troca de tráfego na região. E muitas outras estão se conformando.
Muito é discutido em LACNOG acerca dos Pontos de Troca de Tráfego como forma de aperfeiçoar a comunicação e manter o tráfego local na região.
E já podem ser vistos resultados práticos dessas discussões.
Qual é a visão de LACNOG acerca do debate sobre a neutralidade na rede?
Essa é uma questão bastante nova e de grande importância, mas muito ampla.
Houve discussões no grupo acerca de alguns itens específicos, principalmente os que referem à operação de redes.
Durante o Net Mundial, uma das questões apresentadas por LACNOG foi que a rede não seja “culpada” pelo que é traficado nela. Isto é, tem que ser neutro e não ser o operador quem faça o “monitoramento” do que é enviado através dela.
Quais serão os eixos centrais da reunião de LACNOG no Chile? Que aspectos mais relevantes você salientaria do Fórum de Operadores de Redes a ser realizado neste ano?
A chamada para apresentação de trabalhos foi publicado há pouco tempo, e mostra interesse sobre vários assuntos relacionados à operação.
Há um interesse bastante forte em questões como implementação do IPv6, IXP, CDN (Content Delivery Networks) e roteamento seguro.