Há um ano, o LACNIC lançou a primeira edição do seu Programa de Embaixadores de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) com o objetivo de identificar, treinar e orientar novos líderes técnicos na América Latina e o Caribe. Esta iniciativa busca fortalecer o desenvolvimento de uma Internet aberta, estável e segura, liderados por profissionais que se tornam referentes em suas comunidades locais.
Uma das experiências mais notáveis do programa é a de Celsa Sánchez, do NIC Chile, quem liderou um projeto para expandir a rede de medição do RIPE Atlas e promover a adoção de BGP, DNSSEC e RPKI no país.
“Começamos com 58 sondas e fechamos com 84. Crescemos 45% e alcançamos regiões onde antes não havia. “Isso marca um ponto de virada em nossa capacidade de monitoramento”, explicou Sánchez.
Seu trabalho também incluiu palestras, reuniões com fornecedores e colaboração com universidades, combinando tecnologia, comunidade e educação.
Costa Rica: monitoramento municipal e liderança técnica desde o nível local
O segundo embaixador de P&D a falar foi Andrés Cortés, responsável pelo Departamento de Tecnologia da Informação na Municipalidade de Carrillo, localizada na província de Guanacaste.
Cortés enfatizou que, embora os municípios sejam frequentemente o último elo na cadeia de conectividade — como usuários finais de ISP e pontos de troca — cada ator do ecossistema tem a responsabilidade de implementar as melhores práticas e mecanismos de segurança, como o IPv6, BGP e RPKI.
Com esse compromisso, uma sonda RIPE Atlas também foi instalada na infraestrutura municipal, como parte do fortalecimento do monitoramento e do engajamento com a comunidade técnica global. Em seu papel como embaixador de P&D do LACNIC, Cortés liderou iniciativas de promoção que superaram em muito os objetivos planejados. Embora o primeiro objetivo era implantar quatro sondas RIPE Atlas, conseguiram ativar nove, e mais duas que foram entregues à Universidade Nacional. Além disso, duas sondas âncora foram instaladas: uma na municipalidade e outra na cooperativa Coopeguanacaste. Esta expansão tornou a região de Guanacaste visível nos mapas globais de medição, onde antes nenhum nó ativo era registrado.
Bolívia: Crescimento das capacidades técnicas e adoção do IPv6
O embaixador do LACNIC, Richard Huchani, compartilhou os resultados de sua participação no programa, destacando o interesse e as expectativas da Bolívia em fortalecer as capacidades técnicas e melhorar a infraestrutura da Internet, apesar das lacunas existentes.
Hoje, a Bolívia tem 67 sistemas autônomos (ASN), incluindo universidades, ISP, governos locais e empresas privadas. Como embaixador, Huchani trabalhou com várias partes interessadas do ecossistema, promovendo iniciativas em medição, adoção de tecnologias e empoderamento da comunidade.
Uma de suas principais conquistas foi a expansão do projeto RIPE Atlas: até 2024, a Bolívia contava com 12 sondas ativas, concentradas no eixo principal (La Paz, Santa Cruz e Cochabamba). Graças aos seus esforços, foram instaladas sondas em departamentos historicamente sub-representados, como Tarija e Oruro, e aumentado o número de sondas nas principais cidades principais, atingindo um total de 23 sondas ativas até o final de maio de 2025 —um crescimento de mais de 90%.
Em relação ao IPv6, a Bolívia passou de 20% para um pico de 31% de adoção, graças ao trabalho colaborativo com o setor bancário, universidades e operadoras de rede. Além disso, Huchani enfatizou a importância de continuar promovendo as melhores práticas no RPKI, visto que a Bolívia já tinha mais de 95% dos prefixos IPv4 e mais de 90% dos prefixos IPv6 assinados no início do programa.
Equador: promoção do IPv6 e implantação de sondas
Hernán Samaniego assumiu o desafio de promover a implantação do IPv6 no Equador, onde operadores e técnicos locais mostravam alguma resistência. Por meio de palestras, oficinas e espaços de diálogo, ele conseguiu transformar essa desconfiança em interesse, destacando a importância do IPv6 diante do esgotamento do IPv4.
Ele também promoveu o uso de ferramentas de medição da internet, até então pouco conhecidas no país. Seu trabalho permitiu a instalação de 18 novas sondas, melhorando as capacidades de monitoramento da rede e somando novos ISP interessados em participar do que ele chama de “comunidade de sondas”.
Outro marco foi a criação de um grupo do WhatsApp que reúne mais de 400 pesquisadores e profissionais de universidades equatorianas, onde recursos técnicos, oportunidades de capacitação e convocatórias são compartilhados diariamente. Esta rede informal tem sido fundamental para fortalecer a comunidade técnica no Equador e manter o interesse em questões-chave da Internet.
Venezuela: Promoção de boas práticas e fortalecimento regional
Raitme Citterio, da Venezuela, compartilhou os resultados de seu trabalho, articulado principalmente por meio do grupo de operadoras de rede do país, um espaço que reúne grandes, médios e pequenos atores.
Sua gestão centrou-se em três eixos:
- Capacitação no IPv6, com oficinas presenciais em Caracas e na região centro-oeste.
- Promoção de MANRS, para melhorar a segurança no roteamento.
- Medição da Internet, por meio da instalação de sondas RIPE Atlas.
O progresso foi concreto: 70% dos participantes da oficina em Caracas expressaram interesse em implementar MANRS, enquanto na região centro-oeste, esse interesse atingiu 60% dos ISP participantes.
Em relação à medição, quatro sondas foram entregues após a oficina em Caracas, e um ISP se comprometeu a instalar mais duas. Na região oeste, cinco sondas foram distribuídas (já operacionais) e duas estão em processo de instalação.
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O Programa de Embaixadores de P&D do LACNIC demonstrou o impacto positivo da incorporação de vozes locais no desenvolvimento técnico da Internet na região. Estas experiências refletem como o comprometimento, o conhecimento e a colaboração podem transformar as realidades locais, criando um ecossistema mais robusto, resiliente e seguro para todos.