Panamá avança na adoção do IPv6 em redes governamentais

22/06/2023

Panamá avança na adoção do IPv6 em redes governamentais

A implementação do protocolo IPv6 é estratégica para concretizar os planos de qualquer agenda digital de governo.

Na atualidade não existe disponibilidade de endereços IPv4, uma vez que na região da América Latina e do Caribe ainda falta integrar cerca de 200 milhões de usuários – pouco mais de 30% da população, segundo CEPAL, sendo que a adoção do IPv6 é a única forma de garantir que a população possa participar das oportunidades da era digital. Além disso, o incremento de dispositivos interconectados é exponencial, o que gera uma demanda massiva de endereços IP.

O desafio então é conseguir que todos os países atinjam altos níveis de implementação do IPv6, a fim de não ficarem para trás, tanto no acesso de seus cidadãos quanto no desenvolvimento tecnológico.

No caso do Panamá, a Autoridade Nacional para a Inovação Governamental (AIG) apresentou em 2022 os resultados do Projeto de Coexistência entre os Protocolos IPv4 e IPv6 na Rede Nacional Multisserviços (RNMS), plataforma tecnológica que oferece os serviços das telecomunicações a mais de 5000 sites das entidades públicas, entre estes: serviços de enlaces de comunicações (dados), Internet, centro de dados e serviços de voz. O objetivo foi começar de maneira tangível o processo de adoção do IPv6 nas entidades públicas do Panamá, preparando e modernizando a gestão pública para a crescente demanda de conectividade que se espera nos próximos anos.

Alkin Saucedo B, Diretor de Telecomunicações da AIG, conversou com o LACNIC sobre os desafios da adoção do novo protocolo:

Qual é a importância da transição do IPv6 para a modernização da gestão pública no Panamá? Qual o contexto a nível de conectividade do âmbito público?

Na Autoridade Nacional para Inovação Governamental (AIG), estamos vendo o projeto de introdução do IPv6 como parte das estratégias para o Desenvolvimento do Setor das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), bem como do fortalecimento da inciativa Panamá Hub Digital, que tem como objetivo principal o aproveitamento das TIC no Panamá. Dentro de suas verticais (que incluem múltiplos aspectos) está a conectividade. Para nós, a implementação do IPv6 tem um papel importante na modernização da gestão pública, sobretudo, considerando que o LACNIC vem apontando, há vários anos, a necessidade da transição para o IPv6, em razão de que os endereços IPv4 estão se esgotando.

Como tem sido a implementação e por que foi desenhada uma folha de rota e um processo em etapas? Por que este formato é adequado para a implementação do IPv6?

O plano que estabelecemos e que termina em uma folha de rota, provém de um processo que incluiu um diagnóstico previamente realizado com as entidades públicas para identificar não apenas o nível tecnológico de sua infraestrutura, mas também o conhecimento sobre o IPv6, assim como a importância e a prioridade que possui cada entidade pública de cara ao IPv6. Este diagnóstico também chegou à RNMS, cujo resultado foi que a mesma está preparada para suportar que as entidades públicas fossem progressivamente transitando para o IPv6. De fato, já estamos administrando alguns endereços IP na versão 6 através da RNMS. Nesse sentido, fazer uma folha de rota não só permite ter uma ordem, senão que graças a este diagnóstico prévio é possível atender em etapas a implementação do IPv6 daquelas entidades públicas que assim o precisarem. A folha de rota estabelece as ações a curto, médio e longo prazo que devemos implementar, considerando que cada entidade pública é diferente.

A folha de rota contempla não apenas os treinamentos, acompanhamentos, guias técnicas, mas também propõe um tempo razoável para que as entidades públicas deem andamento a esta mudança tecnológica.

Quais foram os maiores aprendizados deste processo?

É importante destacar que a competência da AIG é orientada às entidades públicas; no entanto, a implementação do IPv6 permeará para a esfera privada e para os cidadãos. De qualquer forma, o primeiro que quero sugerir é não impor a transição para o IPv6. Creio que devemos ter uma cultura de IPv6 convencidos dos benefícios que esta mudança tecnológica oferece.  Acredito que a implementação do IPv6 nas entidades públicas, promoverá a adoção desta tecnologia no país, contudo, é necessário realizar investimentos e entrar na fase de treinamentos com essas entidades. Se não avançarmos com isso, é pouco provável que haja uma adoção imediata. Insisto: apesar de termos a competência para estabelecer regulamentos obrigatórios, creio que esse não é o caminho, na verdade, o caminho é estabelecer as guias para fazê-los, bem como acompanhar e monitorar as entidades públicas nesse processo.

O que aprendemos deste processo é que não esperamos que as entidades públicas botem fora seus equipamentos e que comprem equipamentos novos para a adoção do IPv6. Acredito que o melhor é fazer o que estamos fazendo agora, ou seja, iniciar um piloto de coexistência entre o IPv4 e o IPv6 que nos dê a experiência técnica e administrativa para operar redes neste ambiente, o qual facilitará levar adiante o processo com os menores traumas possíveis, me refiro aos “traumas” não apenas em relação ao tópico tecnológico, mas também aos traumas econômicos que isso pode acarretar, produto de novos investimentos.

Quais seriam as melhores práticas que poderiam se indicar a outros governos que estejam nesta mesma trilha?

Vale a pena destacar o acompanhamento do LACNIC durante todo o processo, o que facilitou seu desenvolvimento.

Nesse sentido, insistimos que a transição para o IPV6 deve ser sob o convencimento dos benefícios que esta mudança tecnológica oferece, e não mediante imposições.

É necessário focar na formalização da governança, bem como no detalhamento dos procedimentos e parâmetros a serem seguidos para a adoção do IPv6 em cada uma das entidades públicas, reconhecendo a diferença entre uma entidade e outra. Devemos formalizar também o período de implantação. Para nós é importante pôr à disposição das entidades públicas os manuais e as guias técnicas para a adoção e que haja um serviço de suporte que possa dar atendimento a qualquer consulta.

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