Por que o IPv6 é tão importante para o desenvolvimento do Metaverso?

24/02/2022

Por que o IPv6 é tão importante para o desenvolvimento do Metaverso?

Escrito por: Gabriel E. Levy B. e Alejandro Acosta

Em quase meio século de vida, os protocolos TCP/IP serviram para conectar milhões de pessoas.

Desde a criação da Internet, eles têm sido os padrões universais sobre os quais é transmitida a informação através da rede, fazendo com que a Internet funcione.

A sigla IP pode se referir a dois conceitos relacionados entre eles; o primeiro é um protocolo (Internet Protocol – Protocolo de Internet em Espanhol) e sua principal função é o uso bidirecional (origem e destino) de transmissão de dados baseados na norma OSI (Open System Interconnection)[4].

A segunda referência possível quando falamos de IP, está relacionada a uma alocação numérica de endereços físicos conhecida como Endereço IP, um identificativo lógico e hierárquico alocado a uma interface de um dispositivo dentro de uma rede que utilize o protocolo de Internet (Internet Protocol – IP), correspondente ao nível de rede ou ao nível 3 do modelo de referência OSI.

O IPv4 refere-se ao protocolo de Internet na sua quarta versão (em inglês, Internet Protocol version 4, IPv4), um padrão de interconexão de redes baseado na Internet, implementado em 1983 para o funcionamento de ARPANET e a posterior migração para a Internet[5].

O IPv6 usa endereços de 32 bits, equivalentes a 4.3 bilhões de blocos de numeração únicos, uma cifra que, para a década dos anos 80 parecia simplesmente inexaurível, no entanto, em razão do crescimento enorme e inesperado da Internet, para o ano 2011, aconteceu o inesperado, todos os endereços se esgotaram. [6].

O IPv6 como solução ao gargalo

Para resolver a falta de endereços disponíveis, conhecido como recursos, os grupos de engenharia responsáveis pela Internet recorreram a múltiplas soluções, desde a criação de sub-redes privadas, de tal forma que com um mesmo endereço pudessem se conectar vários usuários, até a criação de um novo protocolo denominado IPv6, prometendo ser a solução definitiva do problema, lançado oficialmente em 6 de junho de 2012 [7]:

“Prevendo o esgotamento do endereços disponíveis em IPv4 e como solução em longo prazo, o organismo encarregado da padronização dos protocolos de Internet (IETF, Internet Engineering Task Force), desenhou uma nova versão do Protocolo de Internet, concretamente a versão 6 (IPv6), com uma disponibilidade quase inexaurível, a partir de uma nova longitude de 128 bits, ou seja, em torno de 340 undecilhões  de endereços”**[8]**.

É importante esclarecer que a criação do protocolo IPv6 não implica em uma migração, ou seja, em uma troca de protocolos como se fosse um processo de substituição, senão que foi desenhado um mecanismo que permite por um tempo a coexistência articulada de ambos os protocolos.

Para assegurar uma transição transparente aos usuários e que garanta um tempo prudencial para que os fabricantes adquiram a nova tecnologia e os provedores de Internet a implementem em suas redes, a organização responsável pela padronização dos protocolos de Internet (IETF, Internet Engineering Task Force), desenhou junto ao protocolo IPv6, uma série de mecanismos denominados de transição e coexistência.

“É como se fosse uma balança, na qual hoje em dia o lado com peso maior representa o tráfego IPv4, mas pouco a pouco, graças a esta coexistência, à medida que houver mais conteúdos e serviços disponíveis com o IPv6, o peso da báscula irá para o lado oposto” ”**[9]*.

O desenho do protocolo IPv6 dá preferência ao IPv6 antes que ao IPv4, desde que ambos estejam disponíveis (IPv4 e IPv6).  Por isso se produz esse deslocamento do peso na “nossa balança”, de uma forma natural, em função de múltiplos fatores, sem que possamos determinar durante quanto tempo o IPv4 continuará existindo na Rede nem em quais proporções. É possível pensar, tentando olhar na bola de cristal, que o IPv6 chegará a ser predominante em 3-4 anos, e nesse momento, o IPv4 desaparecerá da Internet, pelo menos em muitas partes dela”[10].

Sem o IPv6 talvez não exista Metaverso.

Os Metaversos ou Metauniversos são contextos onde os humanos interagem social e economicamente como ícones, através de um suporte lógico em um ciberespaço, como uma metáfora amplificada do mundo real, mas sem limitações físicas ou econômicas.

“Você pode pensar no Metauniverso como uma Internet encarnada. Ao invés de formar parte do conteúdo, você está nele, marcando presença com outras pessoas como se estivesse em outros lugares, vivenciando experiências que não seriam possíveis em uma aplicação 2D ou em uma página web”. Mark Zuckerberg CEO do Facebook** [12]

O Metaverso necessariamente corre ou se executa sobre a Internet, que por sua vez utiliza o IP ou o (Internet Protocol) para funcionar.

O Metaverso é um tipo de simulação que mediante _avatares_ permite aos usuários conexões muito mais imersivas e realistas, implementando um universo virtual que corre online. Por esta razão, é necessário garantir que o Metaverso seja imersivo, multissensorial, interativo, que corra em tempo real, que permita diferenciar de forma precisa a cada usuário, que implemente ferramentas gráficas simultâneas e complexas, dentre muitos outros elementos. Seria impossível garantir tudo isso sobre o protocolo IPv4, já que não existem suficientes recursos IP para cada conexão, nem mesmo é possível assegurar que com tecnologias como o NAT possa correr adequadamente.

Os elementos chaves:

  • O IPv6 é o único protocolo que pode garantir a quantidade suficiente de recursos IP para suportar o Metaverso.
  • O IPv6 evita o mecanismo de NAT nas redes que complicaria tecnologicamente a implementação do Metaverso.
  • O RTT/Delay dos links do IPv6 é menor que o do IPv4, permitindo que as representações gráficas dos avatares, incluindo os hologramas, possam implementar-se de forma sincrônica.
  • Considerando a alta quantidade de dados que implica a implementação do Metaverso, é necessário garantir a menor perda de dados possível, razão pela qual o IPv6 se torna a melhor opção, pois a evidência mostra que a perda de dados é 20% menor que a do IPv4[13].

O papel dos Pequenos ISP

Levando em conta que os pequenos ISP são os maiores responsáveis pela conectividade de milhões de pessoas nas regiões mais afastadas de toda a América Latina, e, como foi analisado anteriormente, são os grandes responsáveis pela diminuição da exclusão digital[14]. É muito importante que estas operadoras acelerem o processo de migração/transição para o IPv6, não apenas para serem mais competitivas perante seus grandes concorrentes, como também para garantirem a seus usuários que tecnologias como o Metaverso funcionem em seus dispositivos sem maiores traumatismos tecnológicos.

Concluindo, se bem ainda é incerto o escopo real que o Metaverso terá, sua implementação e massificação só será possível graças ao protocolo IPv6, uma tecnologia que forneceu solução à disponibilidade dos recursos IP, evitando o trabalhoso procedimento da tradução de NAT, melhorando os tempos de resposta, diminuindo o RTT ou o Delay e evitando a perda de muitos pacotes, bem como facilitando, ao mesmo tempo, a simultaneidade dos usuários.

Isso tudo nos permite afirmar que o Metaverso sem o IPv6 não seria possível.

Justificação de Responsabilidades: este artigo corresponde a uma revisão e análise no contexto da transformação digital na sociedade da informação, e está devidamente suportado em fontes acadêmicas e/ou jornalísticas confiáveis e verificadas, as quais foram demarcadas e publicadas.

A informação contida neste artigo jornalístico e de opinião, não necessariamente representa a postura da Andinalink ou as entidades com as quais desenvolve suas relações comerciais.

[1] Artigo Andinalink: Os Metaversos e a Internet do Futuro
[2] Artigo Andinalink: Os Metaversos: Expectativas VS Realidade
[3] No artigo: O esgotamento do protocolo IP explicamos as características do protocolo TCP: O esgotamento do Protocolo IP
[4] Documento padrão de referência sobre o Modelo de conectividade OSI
[5] No artigo: ¿Foi criada a Arpanet para suportar uma guerra nuclear? detalham-se as características e a história da Arpanet.:
[6] Documento do Lacnic sobre os estágios do esgotamento do IPv4
[7] Documento de IETF sobre o lançamento oficial do IPV6 no seu sexto aniversário
[8] Guia de referência de Transição do IPv6 do Mintic Colômbia
[9] Guia de referência de Transição do IPv6 do Mintic Colômbia
[10]Guia de referência de Transição do IPv6 do Mintic Colômbia
[11] Artigo da Andinalink sobre os Metaversos
[12] MARK IN THE METAVERSE: Facebook’s CEO on why the social network is becoming ‘a metaverse company: The Verge Podcast
[13] Análise de Alejandro Acosta do LACNIC, sobre o impacto do IPv6 em sistemas táteis.
[14] Artigo da Andinalink: Os Wisp diminuem a exclusão digital

As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.

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