Painel sobre transferências de endereços IP no LACNIC 24
29/10/2015
Durante o painel informativo realizado na reunião anual de LACNIC em Bogotá nos últimos dias de setembro, houve diferentes opiniões acerca da possibilidade de habilitar transferências de recursos IP na região ou com outros Registros Regionais.
Pessoas a favor ou contra as transferências de endereços, experiências de outros registros no assunto e sinais de um mercado secundário na área de cobertura de LACNIC foram ouvidas durante uma hora e meia.
O interesse dos membros da comunidade por obterem informações sobre as transferências de endereços IP serviu como gatilho para abordar a situação que está sendo vivida após o esgotamento do IPv4. Hoje, há três regiões nas que são realizadas transferências: ARIN, APNIC e RIPE.
Jorge Villa foi o moderador do fórum que reconheceu que o esgotamento do IPv4 provocou o surgimento de um mercado secundário de endereços IP, tanto um mercado reconhecido pelo Registro Regional como acontece em outros RIR quanto um “mercado invisível”, chamado assim por Villa, como acontece na nossa região.
Gianina Pensky, oficial de políticas de LACNIC, encarregou-se da apresentação de George Michaelson de APNIC, quem preparou um material com informações da experiência do registro para a Ásia Pacífico sobre as transferências nessa região.
Em APNIC, as transferências de endereços IP levam cinco anos, percebendo-se um aumento importante nos últimos tempos, coincidindo com os anúncios do esgotamento do IPv4 a nível global.
“Vale a pena perguntar-se se o aumento dessa atividade está determinado pela procura e nao pela oferta dos endereços. Temos uma maior procura, e isso é o que está determinando o aumento dessas transferências“, apontava o slide de Michaelson apresentado por Penshy.
Nas transferências realizadas até hoje na região da Ásia Pacífico, participaram desse mercado de endereços, 596 organizações dos 11.319 membros de APNIC. Assim mesmo, o transpasso representa 1.4% do total de endereços de APNIC.
Marco Schmidtt, de RIPE NCC, região em que são realizadas entre 20 e 30 transferências por dia, falou na sua palestra de diferentes elementos a levar em conta. Para ele, o argumento a favor mais importante é a manutenção correta do registro de endereços porque “as transferências vão ser feitas de qualquer jeito, e devemos conseguir que sejam feitas de forma oficial”.
Também salientou outro elemento: o fato de que os endereços não usados deveriam ser devolvidos de forma voluntária e realocados entre organizações que sim precisam deles.
Para ilustrar o que aconteceu, Schmidtt divulgou números sobre transferências IP realizadas nos três registros. ARIN desde 2009 realizou 300 transferências de cerca de 33 milhões de IP; APNIC começou em 2010 e já leva 1000 transferências de cerca de 9.7 milhões de IP; e RIPE desde 2012 tem feito mais de 3 mil transferências de 18 milhões de endereços IP. Por sua vez, as transferências entre RIR (APNIC e ARIN) somam 172 transferências de cerca de 4.5 milhões de endereços IP.
Ricardo Patara, Gerente de Recursos de Numeração de NIC .br, explicou “Estou preocupado com o fato de fazer um mercado de endereços: as transferências de endereços IP não deveriam ser lucrativas.”
Assim mesmo, Patara apontou que os RIR não apenas tomam conta do registro de informações (das IP) -um dos argumentos aduzidos pelos defensores das transferências- mas também desempenham um papel importante na alocação dos recursos já que somente os concede sob uma necessidade comprovada, com acesso justo e equitativo.
A pesar de sua posição, ele admitiu que vai chegar o momento “inevitável”, em que deverão ser aceitas as transferências de endereços IP na área de cobertura de LACNIC ou com outros registros. A essa altura, ele propôs estabelecer critérios que evitem o desenvolvimento de um mercado especulativo.
Edmundo Cázarez López, Gerente de Recursos de Numeração de NIC México, comentou que as transferências vão acontecer pela necessidade de endereços que os membros da região têm, mas é possível tentar que isso aconteça com o menor número de problemas possível. Segundo ele, uma transferência deveria acontecer quando houver uma necessidade demonstrada, usando para sua autorização o critério atual do manual de políticas de LACNIC.
Para finalizar, Daniel Miroli da IP trading, uma empresa encarregada de realizar transferências de endereços IP, compartilhou sua experiência nas regiões em que está habilitado esse mecanismo.
O painel não apenas gerou debate entre os participantes de LACNIC 24 e quem seguiu a reunião à distancia, mas também trouxe para a mesa informações valiosas para que a comunidade possa, de uma forma informada, definir os critérios sob os que LACNIC deve administrar os recursos nos próximos anos.
Se quiser mais informações sobre este painel, assista o vídeo aqui: https://youtu.be/yCkw55Xd0SQ