Os incidentes de roteamento como porta de acesso para os golpes cibernéticos.

30/06/2020

Os incidentes de roteamento como porta de acesso para os golpes cibernéticos.

Augusto Mathurin- Consultor do projeto FORT

Cada vez estamos mais conectados e a convergência entre nossa vida digital e analógica cresce a cada dia. Este fenômeno, que por si só já aumenta em grande velocidade, turbinou-se ainda mais com a crise provocada pela pandemia da COVID-19. Uma consequência óbvia por haver mais dispositivos conectados e mais pessoas dependendo dessas conexões, é o aumento dos atores que realizam ações mal-intencionadas na rede, e isso acarreta o incremento das tentativas de ataques cibernéticos.

Há tempo que as notícias relacionadas a incidentes e ataques na rede formam parte dos portais informativos convencionais, mas geralmente, estas notícias estão centradas em eventos que ocorrem nas camadas superiores da Internet, deixando de lado “sua tubulação”, ou seja, a camada de roteamento. Ainda falta muito caminho por percorrer para poder garantir que os incidentes de roteamento não sejam significativos.

Embora o público em geral não saiba o quão exposta está a rede neste nível, a comunidade técnica já vem abordando este desafio há muito tempo mediante o desenvolvimento e a implementação de diferentes soluções.

LACNIC em parceria com o NIC.MX desenvolveram o projeto FORT,

que dá andamento a sua campanha de implementação do RPKI na América Latina e no Caribe, com o intuito de aumentar a segurança e a resiliência dos sistemas de roteamento. Outras organizações como a Internet Society, abordam este problema através da sua iniciativa MANRS, que fornece soluções para reduzir as principais ameaças de roteamento.

Seu objetivo é dar suporte tanto para as operadoras de rede (ISP) quanto para pontos de troca da Internet (IXP). Esta problemática inclusive formou parte da agenda do Fórum Econômico Mundial, que tratou este assunto, criando um relatório com os Princípios de Prevenção do Crime cibernético para os Provedores da Internet. O quarto destes princípios anunciados é afiançar a segurança de roteamento e sinalização para reforçar uma defesa efetiva contra os ataques “, onde são recomendadas as ações propostas pela iniciativa de MANRS. Por outro lado, operadoras de rede como Cloudflare, uma das maiores provedoras de infraestrutura da nuvem a nível global, há anos vem realizando campanhas de promoção e implementação de medidas como o RPKI. Recentemente expressou que já está na hora de que as operadoras de rede evitem que os hijacks e leaks tenham um impacto. É hora de fazer com que o BGP seja seguro e não se admite mais desculpas.

(Acesso livre, não requer assinatura)

Por que todas estas organizações estão tão focadas em assegurar a camada de roteamento da Internet? Quais podem ser as consequências por não atender a esta segurança?

Em primeiro lugar, é fundamental conhecer quais são os atores que têm interesse em provocar estes golpes cibernéticos, que não são necessariamente diretos ao roteamento da Internet, só assim será possível entender quais são seus principais objetivos e como as vulnerabilidades na camada de roteamento poderiam ser uma eventual porta de acesso para estes golpes.

De um lado, temos os responsáveis da atividade ilícita online, que de acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial, alcançará um custo de 6 bilhões de USD para 2021. Esta atividade é desenvolvida por diversos grupos que agem com maiores e menores escalas de sofisticação. Em seu conjunto, a atividade que eles realizam é enorme, e para ter uma ideia, basta procurarmos na pasta de lixo eletrônico de nossos correios pessoais para ver quantos e-mails maliciosos tentam realizar fraudes de forma massiva.

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