LACNIC prepara um novo plano estratégico
28/04/2016
O novo presidente da Diretoria de LACNIC, Wardner Maia, garantiu que a Internet tem virado tão indispensável como a água encanada ou a energia elétrica na vida dos cidadãos e, por isso, como profissionais das Tecnologias da Informação, sua organização deve cuidar que “a Rede sempre esteja funcionando e satisfazendo as expectativas das pessoas”.
Ligado a LACNIC há 10 anos, Maia, um engenheiro brasileiro, com especialização na área de telecomunicações e Tecnologias da Informação, assumiu a presidência este ano do Registro Regional da Internet para América Latina e Caribe.
Em entrevista com LACNIC News, Maia anunciou que LACNIC prepara um novo plano estratégico combinando as expectativas dos diferentes atores envolvidos na Internet na região. “A LAC tem avançado significativamente, (mas) ainda há muito a ser feito”, admitiu Maia.
Como você vê o atual desenvolvimento da Internet na América Latina e o Caribe?
A região da América Latina e Caribe é caracterizada por uma importante diversidade de culturas e diferentes realidades socioeconômicas, o que provoca reflexos imediatos em uma grande disparidade no desenvolvimento da Internet. Na região convivem áreas satisfatoriamente assistidas com outras em que a carência em termos de disponibilidade e qualidade é bastante acentuada.
Ainda que nos últimos anos a penetração da Internet na região de LAC tenha tido significativos avanços, muito ainda há por ser feito para que tenhamos um nível comparável com outras regiões no mundo, tanto em termos de penetração como de qualidade de conexão.
Nesta vertente, o papel de LACNIC como entidade de liderança no setor é bastante relevante na condução e incentivo de ações para o setor.
Você acha que a Internet tem mudado muito desde que começou a vincular-se com as TIC?
Certamente a Internet muda a todo momento, seguindo uma evolução natural ditada pelo desenvolvimento tecnológico, pela consolidação da rede como fonte de informação e pelo surgimento de novos e inovadores serviços.
As aplicações que todos os dias surgem de forma aparentemente inesgotável, são rapidamente incorporadas aos hábitos dos usuários como se sempre tivessem existido aumentando no dia a dia a importância da rede na vida das pessoas.
Que impacto tem a Internet no seu dia-a-dia?
Nos últimos anos a Internet evoluiu bastante, ao ponto de estar se tornando uma espécie de comodidade transparente para todos nós, assim como se tornaram transparentes a existência da energia elétrica e da água encanada, como exemplos.
Cada dia que passa nos tornamos mais dependentes da Internet e, paradoxalmente, damos menor importância à sua existência, pois normalmente ela aí está, de forma tranquila e transparente. Assim, como hoje somente nos lembramos da água ou da energia elétrica quando elas nos faltam, o fazemos com a Internet.
Desta forma, pensando como usuário de Internet, creio que o grande impacto que ela tem em nosso dia-a-dia, está diretamente vinculada à sua indisponibilidade e ou seu mal funcionamento. Como profissionais da área temos que zelar para que a rede esteja sempre funcionando e atendendo às expectativas das pessoas.
Há quantos anos você está vinculado a LACNIC? Quais são as mudanças mais relevantes que você destacaria de LACNIC durante todo esse período?
Meu primeiro contato com LACNIC foi quando fiz uma solicitação de ASN e Blocos, em 2006. Na ocasião os recursos de numeração para o Brasil ainda eram diretamente fornecidos por LACNIC e não pelo Registro.br.
Confesso que pouco conhecia sobre como era feita a gestão dos recursos do ponto de vista dos RIR e tampouco como eram os mecanismos de participação.
Em 2008, fazendo um trabalho no Uruguai tive a oportunidade de rapidamente conhecer a sede, aliás muito menor do que é hoje, e passei a melhor acompanhar as atividades de LACNIC, quando em 2010 surgiu a oportunidade de me candidatar ao diretório, tendo sido eleito naquele ano e re-eleito em 2013.
Nesses anos todos muitas mudanças ocorreram, com a entidade consolidando-se na liderança de ações relacionadas a Internet na região, com uma profissionalização sempre em crescimento do quadro de colaboradores e com iniciativas de participação e transparência sendo constantemente melhoradas e implementadas.
Qual é a sua visão sobre o caminho que deve seguir LACNIC nos próximos anos?
Creio que os caminhos que devem ser seguidos por LACNIC nos próximos anos sejam uma compilação das expectativas de diversos atores envolvidos, como os associados (clientes), corpo de funcionários, entidades correlatas e os diretórios.
Para o balizamento de como a entidade deve atuar periodicamente LACNIC tem revisado seu planejamento estratégico com base na percepção destes mesmos atores, o que tem se mostrado uma forma eficiente de apontameno de ações.
Em especial este ano de 2016 será marcado por essa revisão periódica, cujo processo está em pleno andamento e coordenado por nosso CEO. Neste processo estão sendo envolvidos todos os stakeholders inicialmente para a formação das bases do processo com a revisão e compilação de expectativas e posteriormente pela estruturação e discussão do plano.
Que papel desempenha LACNIC no ecossistema regional da Internet?
A missão institucional de LACNIC no ecossistema regional da Internet é a gestão dos recursos de numeração (endereços IP e números de sistemas autônomos), o que a temos procurado fazer com bastante eficiência. Creio que a instituição esteja tendo sucesso nesse encargo ao promover políticas de administração desses recursos de uma forma democrática e participativa.
Além dessa missão chave, LACNIC tem contribuído para o desenvolvimento da Internet na região através de outras iniciativas que promovem e defendem os interesses da comunidade regional, colaborando assim na criação de condições para que a Internet seja um instrumento efetivo de inclusão social e desenvolvimento econômico para todos os países e cidadãos da região.
A pesquisa de LACNIC e CAF acerca do estado do IPv6 na região mostra que apenas 1% da América Latina e o Caribe está preparado para a Internet das Coisas. Na sua perspectiva, quais poderiam ser os motivos dessa baixa adoção?
Em primeiro lugar é importante destacar a iniciativa dessa pesquisa que, mesmo mostrando uma situação que não é a ideal, nos dá diversos indicadores de como deve a instituição se posicionar com relação às medidas a serem adotadas para mudar essa realidade.
Sobre os razões que podem explicar a baixa adoção, poderíamos apontar várias, como a deficiência de conectividade IPv6 oferecida por alguns players em algumas regiões, a questão do suporte em equipamentos terminais de clientes, etc. No entanto nos parece que a razão principal reside no fato que muitos dos atores envolvidos não vislumbram a adoção do Ipv6 como uma prioridade ou um ganho para seu negócio, quando na verdade esses atores deveriam avaliar o que a não adoção do protocolo pode ser prejudicial no futuro.
Nesse sentido LACNIC tem desempenhado seu papel no incentivo à adoção do IPv6, promovendo, além de treinamentos e capacitações, eventos que reúnem os autores envolvidos no processo de implementação do Ipv6.
Que avaliação você faz de todo o processo de discussão sobre a proposta para que a comunidade global assuma a custódia das funções da IANA?
Desde o inicio de 2014 em que a discussão desse processo foi iniciada pelo histórico anúncio do governo americano, em abrir mão da supervisão das funções de IANA muitas coisas aconteceram e muito trabalho foi realizado.
Passados mais de dois anos dessa discussão que envolveu diversas comunidades, como a de recursos de numeração, de nomes e de protocolos, o resultado final mostra que a comunidade tem a maturidade suficiente para adotar um modelo multistakeholder para sua governança.
O futuro desse processo ainda é incerto, uma vez que não depende somente dos atores até aqui diretamente envolvidos, porém, dada da consistência do trabalho que foi produzido, tudo indica que o imenso esforço da comunidade será recompensado em um ecossistema mais perene e sustentável.
Quais são suas expectativas sobre a reunião de LACNIC em Cuba?
O último evento realizado por LACNIC em Cuba ocorreu em 2005, portanto há 11 anos. De lá para cá muita coisa mudou na realidade de LACNIC, cujas reuniões tem crescido substancialmente, não apenas no que tange ao seu tamanho, mas principalmente pela intensa participação de associados. Por sua vez, Cuba tem merecido um grande destaque no cenário atual por conta das perspectivas de mudanças no cenário geopolítico que acenam para uma maior integração do pais com a comunidade global.
Muitas novidades ocorrerão nesta reunião, como o painel de mulheres, o painel de governos e muitos outros.
Todos esses ingredientes nos levam a concluir que a reunião de Havana será única, o que certamente representará um marco na história de LACNIC.
As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.