A realidade da conectividade da América Latina

12/04/2024

A realidade da conectividade da América Latina

Por Peter Wood, Analista Sênior da TeleGeography

Há algumas semanas, a TeleGeography voltou a São Paulo para participar da conferência Capacity Latin America 2024.

Houve poucos momentos de tédio com o mercado atacadista de conectividade da América Latina cheio de atividade. Entre os muitos pontos de discussão, vale a pena mencionar alguns temas-chave.

Vamos dar uma olhada.

Acompanhar o mercado da conectividade

Muitos sistemas de cabos da região têm mais de 20 anos, portanto estão chegando ao fim de sua vida útil e provavelmente serão desativados até o final da década. Isso significa que é necessário atualizar a infraestrutura de cabos em muitas rotas.

Uma área de especial atenção este ano: a América Central e o Caribe.

Foi aqui onde muitos sistemas subaquáticos foram ativados na década de 2000 (Americas-IIMaya-1South American CrossingPan-American CrossingMid-Atlantic CrossingGlobeNet) e 2001 (ARCOSSouth America-1). Cada sistema é diferente, mas em geral eles estão se aproximando ao final de sua vida econômica.

Pode ser difícil para as operadoras calcular exatamente quando retirar oficialmente um sistema e substituí-lo por algo novo. Na América Central e o Caribe isso é particularmente difícil.

A procura é relativamente baixa para cada mercado individual, o custo de construção e manutenção de um novo sistema pode exceder as receitas previstas e as licenças podem tornar-se rapidamente complicadas se um sistema afetar vários países.

Extreme Makeover: Edição de cabos submarinos

Os cabos antigos podem estar chegando ao fim dos seus dias, mas podemos ver novas infraestruturas no horizonte. E grande parte desta infraestrutura vai para o México.

Os cabos antigos podem estar chegando ao fim dos seus dias, mas podemos ver novas infraestruturas no horizonte. E grande parte desta infraestrutura vai para o México.

Alguns projetos a destacar incluem TAM-1 (espera-se que esteja pronto para entrar em serviço em 2025), TIKAL-AMX3 (2026) e Gold Data-1/Liberty Networks-1 (2026).

A Amazon Web Services também está planejando uma nova região de nuvem no México. Combinado com o rápido crescimento do número de centros de dados em Querétaro e na Cidade do México e arredores, a necessidade de conectividade de backbone no México provavelmente continuará aumentando.

À medida que cresça o fornecimento submarino ao mercado mexicano, este terá de competir com a conectividade terrestre que tem preços muito competitivos na região.

Tomemos como exemplo a rota Dallas-Cidade do México. Esta é talvez a principal rota que conecta o México aos Estados Unidos, e ouvimos continuamente que esta é uma das mais baratas da América Latina.

No quarto trimestre de 2023, a mediana ponderada do preço de 100 Gbps foi de US$ 12.000. À medida que a oferta continua aumentando e o mercado permaneça competitivo, esperamos que o preço continue caindo.

Fonte: © 2024 TeleGeography

O grande show da erosão de preços no Brasil

Indo mais ao sul, o mercado brasileiro também foi tema quente na Capacity LATAM. Mais especificamente, os participantes queriam conhecer os preços do transporte e trânsito IP no Brasil.

Um breve resumo? Os preços caíram rapidamente. E parecem dispostos a continuar caindo. Calculada anualmente de 2020 a 2023 para Miami-São Paulo (a principal rota de transporte para a América do Sul) a mediana ponderada do custo de 100 Gbps caiu 28%, quer dizer, para US$ 16.585.

Para o trânsito IP, a situação é igualmente chamativa. Muitos fornecedores nos dizem que oferecem preços fixos nos principais mercados do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza. Com uma mediana ponderada do custo de 10 GigE de cerca de US$ 0,30 por Mbps no quarto trimestre de 2023, significa que as três cidades estão entre os mercados de trânsito IP com preços mais competitivos do mundo.

São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza estão entre os mercados de trânsito IP com preços mais competitivos do mundo.

Para contextualizar, a mediana ponderada do preço de um porto de 10 GigE em São Paulo em 2018 era seis vezes mais caro do que um porto comparável em Miami. No quarto trimestre de 2023, esse mesmo porto era apenas 1.6 vezes mais caro.

Como mostra a figura abaixo, em mercados como São Paulo o trânsito IP agora tem um preço suficientemente competitivo como para tornar o trânsito local no Brasil em uma opção mais barata do que a compra tradicional de transporte aos EUA mais o trânsito IP local em Miami. 

Fonte: © 2024 TeleGeography

A conferência Capacity Latin America pode ter acabado por enquanto, mas a TeleGeography continuará analisando as principais tendências à medida que o mercado internacional de telecomunicações evolui.

E com próximas conferências como a ITW em National Harbor, Maryland, não faltarão oportunidades para discutir novos projetos e analisar seus impactos.

Peter Wood

Peter Wood é analista de pesquisa sênior da TeleGeography. Seu trabalho é focado em serviços de rede e fixação de preços com foco regional na América Latina e o Caribe.

As opiniões expressadas pelo autor deste artigo são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.

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