Haiti em andamento
01/09/2014
A Ayitic “Internet para o Desenvolvimento” é uma iniciativa que visa reforçar as capacidades digitais do Haiti seguindo um modelo especialmente desenhado segundo as necessidades de desenvolvimento local e que pretende criar as condições para que a Internet seja um instrumento eficaz para a inclusão social e o desenvolvimento econômico desse país caribenho.
É um projeto de LACNIC realizado em parceria com a Internet Society, Google, a Organização Internacional Francófona, ICANN e NSRC.
Em seus primeiros dos anos de funcionamento, Ayitic tem fortalecido as capacidades técnicas de mais de 250 profissionais e estudantes haitianos das áreas de tecnologias da informação e da comunicação.
Lara Robledo, responsável pela Cooperação Institucional de LACNIC, mostra-se animada com o andamento do projeto, porque na grande maioria dos casos, o conhecimento foi implementado em empresas e organizações do Haiti.
Os objetivos estabelecidos pelo projeto Ayitic “Desenvolvimento da Internet” no Haiti estão sendo cumpridos?
Há uma resposta interessante por parte da comunidade local que nos permite acreditar que o projeto está crescendo sobre uma base sólida. Somente a nível de participação, no ano passado tivemos 230 interessados para 100 vagas e neste ano, 325 interessados para 150 vagas.
A novidade é que este é um projeto, em termos de capacitação, em que eles decidem qual formação querem receber. Portanto, o projeto é construído a partir do que os próprios profissionais e estudantes do Haiti acreditam que precisam para seu desenvolvimento; e a capacitação é feita segundo a seleção que eles mesmos fazem entre todas as opções que o projeto oferece.
Por exemplo, neste ano foi incluída a capacitação em Desenvolvimento IPv6, que esteve a cargo de Julien Montavont, professor da Universidade de Strasbourg, França. Esta oficina surgiu a partir da seleção dos potenciais participantes: isso merece ser salientado já que não estava na agenda dos participantes do ano anterior.
Nesse sentido, a Gestão de Redes (a cargo de NSRC) e o desenvolvimento de redes sem fio (básico e avançado) são as oficinas mais requeridas, e é a clara demonstração da importância de criar projetos alinhados com as necessidades das comunidades. A realidade do Haiti obriga a desenvolver tecnologias sem fio tanto em termos de custo, quanto por sua capacidade de rápida recuperação perante desastres naturais. Neste ano temos dois fatos de destaque, o primeiro é que aumentou o número de mulheres participantes do projeto, passando de 5 para 28 em um ano. Há mulheres líderes que estão promovendo sua participação como o caso de Haiti Women in Tech.
O segundo, é que a oficina de redes sem fio básica esteve a cargo de 3 instrutores locais, um deles foi Petuel Placide, que tinha sido participante em 2013. Esse é o modelo que pretendemos: a transferência de conhecimento e o fortalecimento dos recursos humanos – professores – haitianos.
Em resumo, o projeto continua fiel a sua ideia original, de não ser apenas um espaço para capacitar técnicos, algo que por si só não garante o desenvolvimento e que é o último objetivo desse projeto, mas que a linha de desenvolvimento em TIC no Haiti seja maior a cada ano.
O que acham os beneficiários diretos do projeto?
Eles têm atingido processos de aprendizagem que muitas vezes aplicaram em seu desenvolvimento profissional e na empresa ou organização em que trabalham.
Devemos lembrar que o objetivo não é apenas que o participante da oficina adquira conhecimentos, mas que transfira esse conhecimento, em primeiro lugar para a sua organização e depois, por transitiva, para a sociedade em geral.
Segundo os resultados da pesquisa sobre o impacto, desenvolvida pelo projeto em fevereiro e março de 2014, para os 100 participantes da oficina de 2013, oito de cada dez participantes considera que a Ayitic tem contribuído significativamente no seu conhecimento geral sobre as TIC. E quase 100% dos participantes qualificam de “útil” ou “muito útil” o aprendido nas oficinas.
Além disso, a grande maioria tem implementado esse novo conhecimento no seu trabalho, o que confirma a ideia de que estamos no caminho certo, já que é assim que é demonstrado efetivamente o impacto do projeto, expandindo o conhecimento e contribuindo para o desenvolvimento das TIC no Haiti.
Resulta interessante compartilhar suas respostas: depois de terem participado por 6 meses na oficina, 26% garante que “melhorou seus conhecimentos” e 25% que “ganhou novos conhecimentos”. Quase 15% dos participantes garantem que a partir de Ayitic têm realizado propostas de projetos nos seus trabalhos, e a mesma percentagem afirma que têm assumido novas funções no trabalho.
Outra resposta que entusiasma a gente é que quatro de cada dez participantes da Ayitic procuram ter um melhor trabalho no Haiti. Isso que dizer que não estão pensando em emigrar, mas sim melhorar a realidade em que vivem.
Que outros atores da região deveriam se envolver nessa iniciativa para que a Internet se transforme numa ferramenta de inclusão social e impulsione a economia local do Haiti?
O mais importante é alcançar uma base local de suporte. Temos que conseguir envolver todos os atores chave da comunidade local para o desenvolvimento efetivo das TIC no Haiti: um projeto levado adiante por haitianos para os haitianos. Para isso é imprescindível o compromisso de um conglomerado de organizações locais (governo, agências de TIC, empresas, universidades, órgãos de cooperação baseados no Haiti e a comunidade internacional).
O projeto é uma realidade graças ao apoio da Internet Society, Google, a Organização Internacional Francófona, ICANN e NSRC. Mas precisamos de mais organizações e universidades da região, para gerar, por exemplo, uma base de instrutores na que as próprias universidades de onde o instrutor vem, fiquem envolvidas. Um exemplo disso é o formato de apoio que recebemos do NSRC, o qual nós queremos continuar incentivando e expandindo para outros grupos de pesquisadores.