Quando os endereços IP contam histórias: homenagem digital em IPv6
29/07/2025

Por Alejandro Acosta, Coordenador de I+D na LACNIC
Introdução
Esta postagem de blog é baseada no draft da IETF: https://datatracker.ietf.org/doc/draft-richardson-in-memoriam/ e na troca de e-mails que pode ser acompanhada a partir aqui.
Contexto
O Internet Engineering Task Force (IETF) é uma comunidade que tem moldado a própria essência da Internet ao longo de décadas. Com a aproximação do 40º aniversário do IETF em 2026, e uma história que se estende por mais de 55 anos na série de RFCs, é inevitável que muitos colaboradores-chave tenham se aposentado ou falecido. Embora figuras importantes como Jon Postel e Jun-ichiro Hagino tenham sido homenageadas com prêmios, os mecanismos atuais não são escaláveis para o número crescente de pessoas que fizeram contribuições valiosas.
Surge então o “draft-richardson-in-memoriam-00 (escrito por Michael Richardson),” um rascunho de proposta para a Internet que propõe uma forma inovadora de reconhecer esses colaboradores importantes após o seu falecimento: dedicar endereços IPv6 específicos como memoriais.
A proposta: um prefixo /64 para a lembrança*
A ideia principal por trás desse rascunho é atribuir um prefixo IPv6 /64 exclusivo a partir do registro de Uso Especial da IANA (IANA Special Use pool), especificamente para memoriais. Esse novo prefixo seria chamado de “Prefixo IETF In-Memoriam” (IETF In-Memoriam prefix) e envolveria a criação de um novo sub-registro, mantido por meio do processo de aprovação do IESG.
Como funcionariam os memoriais digitais?
- Seriam estabelecidos um registro PTR e um registro TXT permanentes na zona ip6.arpa para cada indivíduo homenageado.
- Um registro TXT conteria o nome da pessoa e seus anos de vida (por exemplo, “Frederick J. Baker (28 de fevereiro de 1952 – 18 de junho de 2025)”).
- Um segundo registro TXT forneceria uma URL com link para um obituário ou uma página relevante no IETF Datatracker (por exemplo, “https://pt.wikipedia.org/wiki/Fred_Baker_(engenheiro)” ou “https://datatracker.ietf.org/person/Fred%20Baker”).
A proposta sugere até uma forma criativa de atribuir o próprio endereço IPv6, utilizando os 64 bits inferiores para representar os números dos RFCs escritos pela pessoa. Por exemplo, Fred Baker, um autor prolífico com mais de 60 RFCs, poderia ter um endereço como 2001:TBD:1220:2804:4595:8028, fazendo referência a alguns dos seus RFCs mais notáveis.
Considerações-chave e feedback da comunidade
Como acontece com qualquer nova proposta no IETF, o rascunho gerou discussões e levantou considerações importantes dentro da comunidade:
(Acesso livre, não requer assinatura)
Privacidade e sensibilidade: o rascunho enfatiza que as famílias dos falecidos devem ser consultadas e aprovar o registro antes que ele se torne público, reconhecendo que essas informações podem ser consideradas intrusivas ou privadas.
Segurança contra fraudes: para evitar memoriais falsos, recomenda-se ao IESG (Internet Engineering Steering Group) buscar múltiplas fontes de comprovação e agir com cautela diante de novas propostas, permitindo tempo suficiente para a verificação dos fatos.
Encaixe dentro de “Protocolos ou Práticas”: S. Moonesamy levantou a questão sobre se as solicitações na Seção 5 do rascunho se enquadram nas diretrizes do RFC 6890 para a reserva de blocos de endereços com “propósitos especiais” para apoiar novos protocolos ou práticas. Michael Richardson considera que isso seria considerado uma “prática”.
As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.