Sebastián Bellagamba: “LACNIC serve como amálgama dos espaços da região”
12/09/2017
Reconhecido por sua pregação constante pela defensa da participação de múltiplos atores na governança da Internet mundial, Sebastián Bellagamba é considerado um ator relevante da Internet na região.
Como diretor regional para a América Latina e o Caribe da Internet Society (ISOC), Bellagamba leva a sua voz para os fóruns regionais e internacionais.
Com 25 anos de experiência no mundo da Sociedade da Informação, Bellagamba salienta que LACNIC conseguiu amalgamar todos os espaços da Internet da região e reduziu as tensões existentes entre os vários grupos de interesse. Para o diretor regional da ISOC, LACNIC faz “confluir” os diferentes atores porque, sob seu guarda-chuva, “se sentem confortáveis”.
15 anos atrás, qual era a sua relação com o mundo das TIC?
Em 2002, 15 anos atrás, eu já fazia mais de dez anos que estava envolvido no mercado da Internet.
Nesse ano de 2002 eu era presidente da CABASE (Câmara Argentina da Internet), estava em um ISP na Argentina, e colaborava com o capítulo da Internet Society.
Quando começou a sua relação com LACNIC e como?
CABASE é um dos membros fundacionais de LACNIC: eu não estive diretamente envolvida na criação de LACNIC, mas sim o pessoal da Câmara, portanto de alguma forme estou envolvido com LACNIC desde antes de sua existência, desde o processo de sua criação.
Que papeis você exerceu na comunidade de LACNIC? Preencheram as suas expectativas?
Fui membro da Comissão Fiscal de LACNIC, fui representante da Comunidade de LACNIC no ASO (Address Supporting Organization Council), de fato, fui Chair do Address Council durante alguns anos. Eu acho que esteve dois períodos, 3 ou 4 anos, na Comissão Fiscal, e depois, me escolheram no evento LACNIC 7 na Costa Rica para o ASO para substituir Raimundo Becca já que este foi eleito para ocupar a posição de Presidente da Diretoria da ICANN.
Eu estive muito mais envolvido nos momentos da fundação, nos primeiros anos, e o papel que eu desempenhei preencheu até demais as minhas expectativas. O surgimento de LACNIC e de uma comunidade regional era um projeto que muitos queriam tornar uma realidade e assim foi o que aconteceu.
Que papel você acha que a comunidade de LACNIC teve na administração dos recursos de numeração nesses 15 anos?
A comunidade de LACNIC foi e é fundamental, principalmente para promover o desenvolvimento da Internet na região.
Eu me lembro de que o primeiro bloco de endereços IP que administrei foi, na verdade, do ARIN, prévio ao surgimento de LACNIC. A experiência foi bem diferente porque a interação com eles foi estritamente na designação do bloco.
LACNIC, além de fornecer os recursos de numeração, oferecia a possibilidade de conhecer diferentes grupos de interesse, compartilhar melhores práticas, trocar conhecimentos … era uma experiência muito mais rica. Quando LACNIC foi criado todos nós começamos a compreender como todo o processo funcionava, e a fazer um melhor uso dos recursos para poder continuar crescendo. Nesse momento começou a criar-se a comunidade a se envolver no processo de designação de recursos.
Que aspectos identificam à comunidade de LACNIC?
Uma coisa fundamental para mim em todo este processo de criação de LACNIC tem a ver com o estabelecimento de mecanismos de cooperação entre a comunidade, a geração própria de uma comunidade colaborativa. O processo de criação do LACNIC não foi fácil; se analisarmos como a comunidade da Internet da América Latina e o Caribe se movimentava nos anos 90, vemos que não era tão colaborativa. Eu acho que na época havia mais tensões, mais interesses, mais setores, bem como uma comunidade mais fragmentada.; mas isso foi mudando graças a LACNIC.
LACNIC serve como um amálgama de todos esses espaços que existiam antes e faz com que se reúnam em um lugar onde todos nós nos sentimos confortáveis e, portanto, começamos a cooperar.
Você percebe a coordenação existente em diferentes espaços internacionais entre os latino-americanos e os caribenhos e isso tem a ver com LACNIC, que é um local de confluência onde devíamos estar à vontade para ver como coordenávamos as coisas que excediam a nossa região.
Como imagina você a governança da Internet em 15 anos?
Tomara seja um pouco mais inclusiva, com mais atores envolvidos. E aqueles que estão mais tangencialmente envolvidos se envolvam ainda mais.
Do meu ponto de vista, deveria continuar sendo um espaço colaborativo; a própria rede é um espaço colaborativo, todos nós decidimos fazer a Internet voluntariamente. Essa colaboração é necessária para manter a governança operando. É importante que o papel dos governos, das empresas privadas, dos atores não governamentais e da comunidade técnica continue crescendo e continuem existindo espaços de colaboração.
O que pode acontecer? Qualquer coisa pode acontecer, o veredicto está aberto. O importante é que cada um continue trabalhando no que está envolvido atualmente para obtermos o melhor resultado.