Ricardo Patara “A comunidade se tornou protagonista”
31/05/2017
Ligado a LACNIC desde antes de sua criação, Ricardo Patara é um dos promotores mais fervorosos do modelo colaborativo da Internet desenvolvido todos estes anos pela comunidade da região.
Trabalhou durante oito anos em LACNIC como gerente técnico até que em 2010 decidiu voltar para o seu Brasil natal para liderar o registro da Internet Nacional nesse país (NIC.br).
Ao analisar os primeiros 15 anos de vida de LACNIC, Patara destaca as realizações de uma organização que, em sua opinião, tornou protagonista à comunidade da Internet da América Latina e o Caribe.
-15 anos atrás, qual era sua relação com o mundo das TIC?
-Nesse ponto, a minha relação com as tecnologias de informação e comunicação estava focada na operação de equipamentos de rede de comunicação e sistemas de roteamento da Internet. Também no desenvolvimento de pequenos sistemas para uso interno na organização.
-Quando começou a sua relação com LACNIC e como?
-Em 2001, portanto, antes da formação de LACNIC eu já estava trabalhando no que seria reconhecido formalmente em 2002. E a primeira tarefa foi uma capacitação em ARIN, o Registro Regional (RIR) que atendia à região naquela época, para logo começar com análises de pedidos de Recursos da Internet enviados por empresas da região para ARIN. Nós éramos os responsáveis da análise, mas correspondia a ARIN a sua aprovação e designação. Isso foi até quando em 2002 LACNIC se torna o quarto RIR e passamos a tratar o processo de pedidos do início ao fim.
Uma vez que LACNIC foi aprovado como RIR, tive de organizar o que seria a área de Serviço de Registro, definir os processos, colaborar com a equipe de desenvolvimento dos sistemas em uso e também a formação da equipe técnica para os trabalhos de Serviço de Registro e web.
-Que papéis você exerceu na comunidade de LACNIC? Satisfez as suas expectativas? Que aspectos você destacaria?
-Desde as primeiras reuniões de LACNIC participei do Fórum Público de Políticas. Ajudei também na criação do grupo de operadores da região, o LACNOG, do qual fui presidente até 2015.
Os resultados sempre foram muito satisfatórios. Nota-se pelo crescente volume de propostas de políticas e, especialmente, o número de pessoas que se envolvem neste processo tão importante a cada ano.
LACNOG também passou de ser uma pequena lista de discussão a ser um grupo bastante organizado de operadores de redes e que já realiza a sua própria reunião anual com cada vez mais pessoas participando e apresentando.
-Que papel acredita que a comunidade de LACNIC teve na administração dos recursos de numeração nesses 15 anos?
-A comunidade tornou-se de uma simples “espectadora” em protagonista. Antes de LACNIC, a participação no desenvolvimento de políticas era praticamente zero. Hoje temos uma comunidade muito ativa e com participação inclusive nas políticas globais para administração dos recursos da Internet.
E com políticas mais adequadas às necessidades da região, claramente se vê o benefício no aumento do número de ISP na região com designação de recursos da Internet, por exemplo.
-Que aspectos identificam à comunidade de LACNIC?
-Eu acredito no “calor” nas discussões, mas ainda assim, com o devido respeito e amizade. Somos também muito abertos e receptivos, tanto que a participação não é restrita apenas para pessoas da região, mas também de outros lugares.
-Como imagina você a governança da Internet em 15 anos?
-Até há pouco tempo, a questão da governança da Internet era restrita a grupos específicos que já tinham algum envolvimento com a comunidade técnica. Isso mudou, mas ainda há muito que fazer até que o tema envolva outros setores da sociedade. Para muitos, não técnicos, a Internet funciona como a eletricidade, apenas conectando um aparelho. Mesmo que em parte seja assim, há aspectos importantes nos quais podemos envolver mais pessoas para que a Internet seja de fato cada vez mais simples e “onipresente”. Mas também mais universal, segura, estável, livre e, principalmente, como um direito de todos.
As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.