“Queremos mostrar ao mundo que hoje somos uma cidade diferente”

12/06/2013

“Queremos mostrar ao mundo que hoje somos uma cidade diferente”

Jornalistas internacionais cadastrados no LACNIC 19 percorreram Medellín junto a um representante da agência de cooperação e investimento local para conhecer de primeira mão seu sistema de transporte integrado, a icónica Biblioteca Espanha – emblema do programa de Parques Biblioteca– e o Parque Explora, entre outros pontos, pelos quais Medellín conquistou o título de “cidade mais inovadora do mundo”.

por Pablo Izmirlian

Quarta-feira 8 de maio, 10 horas da manhã. O ponto de encontro é a esplanada da Plaza Mayor, um centro de convenções e exposições impressionante inaugurado em 2006 e onde são realizados eventos como a Colombiamoda, a semana da moda da Colômbia. Ali somos recebidos por Camilo Monroy, da Agência de Cooperação e Investimento de Medellín e da Área Metropolitana (ACI), quem será nosso guia nesse percorrido pela cidade.

“A cidade não é a mesma que era há 15 ou 20 anos, a que víamos na televisão”, diz Monroy. Descreve esse passado de “narcotráfico, corrupção e insegurança” como uma “época obscura” e não omite mencionar a personagem que foi símbolo desse período: “Pablo Escobar era o dono desta cidade”, diz, para voltar à ideia inicial e último objetivo deste roteiro: “Queremos mostrar ao mundo que hoje somos uma cidade diferente”.

Depois da breve introdução fomos até uma próxima estação de Metroplus, o flamante sistema de ônibus de trânsito rápido que funciona desde finais de 2011 e faz parte do Sistema Integrado de Transporte da cidade, que também inclui o Metrô e o Metrocable. As portas da estação se abrem numa perfeita sincronização com as do ônibus que acaba de parar e ao que subimos.

É uma manhã quente, talvez alguns graus acima da temperatura média agradável que Medellín goza o ano todo e pela qual é conhecida como “a cidade da eterna primavera”. Na paisagem vista através da janela, a cor vermelha dos prédios de tijolos contrasta com o verde das colinas que cercam a cidade. Destaca-se também a arquitetura contemporânea rica e ousada, especialmente das torres de arranha-céus que deixam sua marca no horizonte.

Chegamos a nosso primeiro destino: o prédio Ruta N, sede de uma corporação criada pela Prefeitura de Medellín, a empresa das telecomunicações UNE e Empresas Públicas de Medellín (EPM) para “promover o desenvolvimento de negócios inovadores de base tecnológica que aumentem a competitividade da cidade e da região”, segundo está explicado no seu website. O prédio, outro incrível exemplo de arquitetura contemporânea com fachadas irregulares que combinam vidro, metal e vegetação, é um dos pilares de um projeto que tem sido chamado de “Distrito Tecnológico Zona Norte”.

“A classe dirigente e os ricos moravam na zona sul, de costas para a zona norte”, explica Monroy. “Hoje se pretende construir aqui um centro de ciências, inovação e tecnologia”, diz. “É onde queremos levar à cidade, serviços e tecnologia; temos uma mão de obra qualificada”. Durante o resto do percurso, “cultura”, “educação” e “inclusão social” foram termos repetidos uma e outra vez como ideias centrais dos diferentes planos que conseguiram transformar a cidade.

No abrigo de um ponto de ônibus, um aviso da Prefeitura de Medellín destaca o prêmio recebido à “Cidade mais inovadora do mundo”, distinção outorgada em 2012 pela revista WSJ do jornal financeiro The Wall Street Journal, Citi e o Urban Land Institute (ULI) depois de um processo de seleção que incluiu 200 cidades.

 

Parque Explora

Uma curta caminhada leva ao Parque Explora, um museu interativo de ciência e aquário que foi inaugurado em 2007, soma uns 22.000m2 e espera receber neste ano cerca de meio milhão de visitantes. “Parque de apropriação social de conhecimento”, assim é definido por Andrés Ruiz, chefe da gestão cultural e programação acadêmica do Parque Explora, quem mostra as instalações. Por que um museu interativo? “A gente lembra melhor quando faz coisas”, diz Ruiz.

Começamos pelo aquário, o maior de água doce da América do Sul, que tem espécies nativas da Colômbia, mas também de outras partes do mundo. Passamos também pelo “Salão da Mente”, um pavilhão dedicado ao cérebro e à percepção que permite aos visitantes testar suas habilidades cognitivas com diferentes experiências. Há muito mais para ver, mas devemos continuar. Em Medellín, as pessoas “tinham medo de sair à rua”, e um dos objetivos do Parque Explora era “recuperar o espaço público, torná-lo  um local de encontro”, explica Ruiz. “A ciência, finalmente, é um pretexto para isso”.

O metrô leva a gente até uma estação onde fizemos combinação com o Metrocable, um sistema de teleférico para transporte público, para o bairro Santo Domingo. A cidade dispõe de duas linhas de Metrocable, e está projetada a construção de mais duas. Também funciona uma terceira linha de uso turístico que sobe desde Santo Domingo até o Parque Arví.  Já a vários metros do solo, desde a cabine na qual subimos, Monroy aponta mais um ponto chave: a primeira quadra pública de rúgbi com piso de grama sintética na América do Sul.

Ícone dos parques biblioteca

Em Santo Domingo se ouve neste momento a agitação típica da saída de uma escola. Fica claro por que o guia comentava minutos atrás que “a topografia da cidade faz com que seja difícil de acessar alguns bairros”. Construído na encosta de um morro, o bairro tem como característica particular, ruas íngremes e estreitas, que por sua vez se transformam em pequenos becos que dobram e se perdem entre os prédios.

Chegando aos arredores da Biblioteca Espanha, os três monólitos pretos que são o cartão postal da transformação de Medellín, aproximam-se três “crianças guias”, crianças do bairro que, em uma rotina que parece estudada e praticada centenas de vezes, contam a história da biblioteca e ganham uma merecida gorjeta.

Dentro do prédio voltamos a ouvir palavras como “cultura”, “educação”, “recriação”, “ponto de encontro” e “inclusão social” na descrição das tarefas desse prédio e dos outros que compõem o programa de parques biblioteca, que mais do que bibliotecas são verdadeiros centros cívicos com espaços para reuniões, salão para exposições, salas de computação, creche e midiateca. Segundo os resultados obtidos, também são um elemento chave na pacificação dos bairros mais problemáticos. A Biblioteca Espanha “é o ícone dos parques biblioteca”, dizem. “Existem nove, mas esse foi o primeiro a ser construído”.

Já de volta, surpreende no metrô a limpeza nos trens e nas plataformas, também o anúncio das estações pelos alto-falantes, em espanhol e depois em inglês. Talvez um sinal de que a disputa para sediar os Jogos Olímpicos da Juventude 2018 é algo que a cidade leva muito a sério e por isso cuida até o último detalhe. Medellín concorre com Buenos Aires e Glasgow, e vai conhecer a sua sorte no dia 4 de julho, em Lausanne, Suíça. Se Medellín vencer, vai ser uma demonstração mais de “berraquera paisa”, como chamam aqui a garra, a resolução das pessoas, e que é atribuída às dificuldades topográficas que enfrentaram sempre os moradores da área. Mas Monroy, nosso guia, não fica apenas com essa explicação para o renascimento da cidade. Esta realidade de paz, inovação e desenvolvimento tem tanto de berraquera como de trabalho conjunto, e aponta como fundamental a trilogia que formam a “academia, empresas e estado”, que em Medellín tem provado ser mais do que eficiente: não apenas para melhorar os índices e estatísticas, mas também para gerar um verdadeiro sentimento de pertença e orgulho em seu povo.

Medellín on-line

 

Medellín, portal da cidade

Site oficial da prefeitura

http://www.medellin.gov.co

 

Ruta N

Corporação que promove o desenvolvimento de negócios inovadores de base tecnológica

http://www.rutanmedellin.org

 

Plaza Mayor Medellín

Centro de convenções e exposições, referente na Colômbia

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Parque Explora

Museu interativo de ciências e o maior aquário de agua doce da América do Sul

http://www.parqueexplora.org

Sistema de Bibliotecas Públicas de Medellín

Site oficial da rede de bibliotecas, com informações sobre o programa “Parques Biblioteca”

http://www.reddebibliotecas.org.co

As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.

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