Qual é a agitação em torno da confiança digital?

09/02/2024

Qual é a agitação em torno da confiança digital?

Por Kevon Swift – Líder de Assuntos de Segurança Pública do LACNIC

Embora pareça evidente, muitos de nós podemos ficar tentados a arriscar um palpite sobre o significado da confiança digital e o que isso poderia significar para as atividades mediadas pela Internet. A confiança digital, como área temática sucinta, é bastante nova, mas está ganhando muita atenção à luz do aumento exponencial dos incidentes cibernéticos que ocorreram nos últimos quatro anos, juntamente com diferentes níveis de iniciativas estratégicas e/ou táticas de transformação digital. Por mais atual que pareça, os investimentos das empresas na confiança digital são cada vez mais comuns, uma vez que os problemas subjacentes que causam desconfiança não parecem desaparecer tão cedo. Apesar das frequentes manobras regulatórias por parte de alguns países para abordar estas questões, se os sistemas para implementar novas regulamentações forem ineficientes, o estado de desconfiança persistirá. Então, do que trata exatamente tudo isso? Este artigo tem como objetivo esclarecer o que é a confiança digital e por que ela é fundamental no ambiente digital atual.

Que quer dizer “confiança digital”?

No cenário em rápida evolução da era digital, o conceito de confiança digital transcendeu a mera mercadoria para emergir como um centro de lucro estratégico crucial para o sucesso organizacional. À medida que navegamos em mercados cada vez mais interconectados, facilitados pelas tecnologias digitais, a vulnerabilidade a riscos crescentes torna-se evidente. No ambiente atual, construir e manter a confiança digital tornou-se fundamental, abordando uma lacuna de confiança cada vez maior entre pessoas, governos e empresas envolvidas na criação e implementação de tecnologias digitais.[1] Em termos mais simples, a confiança digital pode ser considerada como a expectativa que têm as pessoas de que as tecnologias e serviços digitais —e as organizações que os fornecem— protegerão os interesses de todas as partes interessadas e defenderão as expectativas e os valores da sociedade.[2] É uma questão que vai além da conformidade, uma vez que envolve decisões estratégicas e alinhamentos em matéria de segurança, riscos, privacidade, qualidade, comunicações, tecnologia da informação, marketing e operações, tudo o que afeta a marca, a reputação e a confiabilidade de uma organização.[3]

Os desafios de segurança do futuro

No domínio dos riscos tecnológicos imediatos que contribuem para este sentimento de “desconfiança”, encontramos os perigos da desinformação intencional ou por erro, todos os que ocupam um lugar de destaque entre os dez principais riscos que se prevê que as sociedades enfrentarão no futuro imediato.[4] A insegurança no domínio digital reflete uma desconexão crescente entre a atual resiliência das tecnologias e redes digitais e a influência crescente das redes do crime organizado. As novas ferramentas e capacidades no universo digital não só abrem novas oportunidades para essas redes, como também transformam o cibercrime em uma empresa financeiramente viável, mas de baixo risco para o crime organizado.[5] Devido ao seu uso em ataques de phishing e à capacidade de fazer traduções precisas para línguas minoritárias, a IA generativa torna-se parte desta equação, ampliando assim o alcance das ameaças cibernéticas.[6] O crime cibernético já é corriqueiro na América Latina e prevê-se que se espalhe para outras regiões, incluindo partes da Ásia e da África Ocidental e Austral.[7] As organizações devem priorizar e investir na confiança digital como uma defesa crítica contra o cenário de ameaças cibernéticas em evolução, uma vez que a luta contra o crime cibernético não é mais uma batalha opcional na linha de frente, mas sim uma habilidade de sobrevivência obrigatória tanto para empresas quanto para os indivíduos.

Governança de dados em risco

(Acesso livre, não requer assinatura)

Graças à interconexão, também percebemos que numerosos dispositivos são desenhados de forma inadequada, principalmente no que refere à privacidade dos dados. O recente aumento nos ataques cibernéticos globais intensifica o foco nos ativos comprometidos, com foco específico no risco alarmante dos dados pessoais. Este cenário de ameaças crescente estabelece a premissa inicial para as pessoas, sejam estas consumidores, clientes ou membros de uma comunidade objetivo, sobre uma base de desconfiança, um sentimento alimentado pela prevalência desenfreada de fraudes on-line e ataques de phishing.[8] Já cansados pelas mudanças intermináveis nos acordos de licença de usuário final (EULA) e outros fenômenos digitais que não conseguem compreender, a enxurrada de anúncios direcionados, juntamente com os ataques de engenharia social, contribuíram para esta animosidade crescente.[9] Embora as soluções técnicas se esforcem para resolver as vulnerabilidades de segurança, a supervisão crítica do cultivo de relações que inspiram confiança abre as comportas para desafios profundos e prejudiciais. Entre estes estão as violações da confidencialidade, acionistas descontentes, o espectro da ruína financeira e a sombra sinistra das consequências reputacionais.

De acordo com o relatório do custo de uma filtração de dados 2023 da IBM, o custo médio de uma filtração de dados em 2023 na América Latina foi de 3.69 milhões de dólares, representando um aumento de 1.32% em relação aos 2.8 milhões de dólares de 2022.[10] No nível mundial, o phishing e as credenciais roubadas ou comprometidas foram os dois


vetores de ataque iniciais mais comuns atribuídos às filtrações, enquanto que as filtrações devidas ao roubo ou compromisso de credenciais, ou pessoas mal-intencionadas, foram as que mais demoraram em serem resolvidas.[11] Além disso, 82% das filtrações envolveram um ambiente de nuvem, quer dizer, uma nuvem pública ou privada ou em múltiplos ambientes.[12] Fatores como a quantidade de competências em matéria de segurança, a complexidade do sistema de segurança e o não cumprimento dos regulamentos determinaram o grau em que os custos foram amplificados entre as organizações afetadas.[13]

As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.

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