Os novos desafios do LACNOG após 10 anos de seu sucesso
09/10/2020
Surgido como fórum de troca de experiências entre técnicos a partir da lista de discussão e de uma reunião inicial em São Paulo (Brasil) em 2020, o Fórum de Operadores de Redes (LACNOG) enfrenta novos desafios após se tornar um dos protagonistas no desenvolvimento da operação de redes na América Latina e Caribe.
Para comemorar seu décimo aniversário, LACNOG organizou um painel de fundadores durante o evento LACNIC 34 LACNOG 2020 no qual seus pioneiros relembraram anedotas dos primeiros Fóruns, inclusive propuseram as perspectivas de futuro para fortalecer a organização e as redes da região.
Participaram Arturo Servín, Ricardo Patara, Nicolás Antoniello e Christian O’Flaherty como fundadores do LACNOG, Ariel Weher como convidado especial e Carlos Martínez como moderador.
Tudo muda. Na apresentaçãodo painel, Martínez afirmou que o décimo aniversário do LACNOG é um excelente momento para refletir sobre o que a organização tem realizado. Há dez anos era difícil de imaginar a Internet que conhecemos hoje em dia: as redes sociais não tinham o impacto que têm hoje, fazer vídeos era algo raro e os resultados eram frustrantes, a largura da banda resultava bastante restrita.
Servín relembrou que nos seus primórdios, o LACNOG consistia numa lista muito boa de discussões técnicas, antes de seu primeiro evento presencial em São Paulo, em 2010. Nessa reunião de São Paulo, apontou Antoniello, o LACNOG começou a se desenvolver como encontro anual, após a criação de seus estatutos. Atingindo assim, um amadurecimento que fez com que os eventos fossem realizados em parceria com LACNIC na segunda metade de cada ano. “Acho que a comunidade do LACNOG, em particular, evoluiu, todos evoluímos muito como comunidade nestes anos”, afirmou Antoniello.
O espírito do LACNOG, segundo Antoniello, deve ser um ambiente onde se possa trocar ideias sem receio a comentar os problemas e os inconvenientes. “Hoje eu ajudo alguém, amanhã alguém me ajudará. Nenhum de nós está capacitado para resolver todos os problemas, então creio que é extremamente necessário e positivo para uma comunidade regional conseguir chegar até onde chegamos hoje”, acrescentou.
Patara considerou histórica a comemoração dos 10 anos do LACNOG. Relembrou que a lista surgiu em 2007, depois de um e-mail anunciando uma lista de discussão de políticas do LACNIC. Como nessa lista havia muitos temas técnicos, nasceu a lista do LACNOG. “A primeira mensagem da lista do LACNOG foi no dia 12 de dezembro desse mesmo ano, 2007. Naquele momento a lista comentava o aumento de rotas, uma vez que, fazia muito tempo que havia preocupação em torno a isso. Nesse momento a lista era um espaço simples com poucas pessoas, mas de muita qualidade, e assim foi crescendo”, destacou Patara.
O’Flaherty apontou que os encontros presenciais do LACNOG são um bom espaço para mostrar que muitas coisas requerem discussão ao vivo para chegar a um acordo. “No nosso caso era muito evidente, estava claro que precisávamos nos conhecer, nos reunir”, disse O’Flaherty. Destacou o papel que cumpriu o LACNIC para atrair pessoas que operavam redes e convencer as organizações de fazer o evento do LACNOG.
Dez anos depois, é um prazer ver tudo organizado e funcionando. É muito importante que as pessoas se conheçam, compartilhem experiências e que exista confiança entre os que operam as redes”, enfatizou um dos fundadores do LACNOG.
O caminho da confiança. Os 10 anos implicam novos desafios. Nesse sentido, O’Flaherty destacou que, para o funcionamento saudável e colaborativo das interconexões, as pessoas devem ter confiança. “O Fórum a nível regional é este, mas a nível local é bom que as pessoas se conheçam. Ás vezes as empresas por concorrência ou história, fazem com que a confiança entre as operadoras a nível nacional seja difícil. Quando obtemos estes grupos de confiança nos países, conseguimos maior impacto e melhor efeito que a nível regional. Quanto mais próxima a rede estiver, mais as pessoas colaboram e as oportunidades aparecem”, disse O’Flaherty.
Antoniello seguiu a mesma linha. Disse que, com o tempo, as organizações da Internet, provedores de serviços e ISPs, devem entender esse conceito. “Se não houvesse problemas, os técnicos não teríamos trabalhos, seria apenas configurar e pronto, não haveria inconveniente. Porém, as coisas estragam e muitas vezes nós as estragamos ao tentar consertá-las sem sucesso. Essa confiança de se animar e de também permitir compartilhar o bom e o ruim, por parte de quem toma decisões nas organizações, aprende-se das coisas”, comentou Antoniello.
Weher afirmou que LACNOG se encontra em processo de reorganização com a apresentação de sua missão, visão e objetivos, assim como mudanças relacionadas a nível institucional. “Uma coisa importante que sempre tratamos no LACNOG é que queremos conseguir participar das questões das quais somos especialistas. Muitas vezes agimos, fazendo recomendação ou documentos para evitar que as pessoas de outro ramo, que provavelmente não tenham a mesma capacidade técnica ou experiência, digam como a Internet funciona, acima de tudo, o objetivo é esse”, enfatizou Weher.
Patara acrescentou que o LACNOG, a partir de um grupo pequeno, se tornou uma comunidade de relevância internacional com um papel importante. “Devemos continuar fazendo do LACNOG um ambiente muito propício para boas discussões, resolvendo problemas, o assunto da confiança é fundamental. O fato de existir uma comunidade onde as pessoas possam se conhecer e confiarem umas nas outras é importante; quantos problemas já foram resolvidos quando entramos em contato com a pessoa? ” Acrescentou Patara.
Diversidade e acessibilidade. Para Servín, o LACNOGpossui uma oportunidade importante de incluir nos seus esquemas equidade tanto racial quanto de gênero e de idade.
Ao meu ver fizemos um papel mais ou menos interessante, mas se olharmos o papel dos fundadores somos todos homens, a primeira reunião estava dominada por homens, aos poucos conseguimos incorporar mulheres. No entanto, ainda há muitas coisas por fazer”, assegurou Servín.
Reclamou maior diversidade de gênero e mais participação feminina na comunidade técnica. “Creio que temos de trabalhar para fortalecer sua participação, trazer mais diversidade e fazer com que o ambiente de trabalho seja menos difícil. Para nós (os homens) é relativamente simples, nos deslocar, fazer isto ou aquilo, porém perguntei a outras pessoas e não estão na mesma posição, são assuntos para levar à mesa e discuti-los”, finalizou Servín.