O maior desafio do IPv6 é superar os obstáculos nas cúpulas empresariais
31/10/2017
A segunda edição do desafio IPv6, um concurso promovido pelo Fórum da América Latina do IPv6 com o apoio da área de P+D de LACNIC, contou com a presença de diferentes organizações e empresas que implementaram o IPv6 em suas redes na América Latina e o Caribe.
O Grupo ZGH do Chile foi o finalista do concurso pelo desenvolvimento do IPv6 que essa organização tem concretizado no seu país. Enzo Picero Sonnenburg, CEO do Grupo ZGH, ressaltou que o alto nível de conhecimento técnico da cúpula da organização facilitou a tomada de decisões sobre a implementação do IPv6.
No entanto, em diálogo com LACNIC News, Picero alertou que as empresas desse país não vêem o IPv6 como uma questão urgente porque acreditam que não é “crítica” para o negócio.
O que os levou a participar do desafio IPv6?
Há um ano que estávamos trabalhando na implementação do IPv6, mas, infelizmente, devido ao lento crescimento desta tecnologia no Chile, não havia possibilidade de avançar com maior celeridade. Pelo mesmo motivo, o projeto foi interrompido momentaneamente esperando que nossos peers anunciassem o IPv6. Este ano, fomos convidados por LACNIC a participar de um curso sobre o IPv6 que nos ajudou a resolver pequenos detalhes para retomar a implementação em dupla-pilha. Assim mesmo, o curso foi capaz de motivar-nos enormemente para retomar o projeto e conseguir fechar esse processo que já demorou muito para se desenvolver. Além disso, durante o curso, tivemos a oportunidade de conhecer um dos nossos peer quem nos informa que eles já estão operando com o IPv6. Graças a isso, nós também conseguimos.
Como assumiram o desafio IPv6?
Poder aplicar esta implementação ao maior número de clientes possíveis e colaborar de alguma forma para que o mundo avance para esta versão de conectividade IP, que embora hoje seja “opcional”, mais cedo que tarde será o padrão de conectividade global.
Que avances conseguiu implementar a sua organização no Chile em relação ao IPv6?
Nós dividimos em quatro etapas ou grupos de trabalho.
- 1. Implementar dupla-pilha no nosso backbone, e anunciar a nossos peer de tráfego IP a rede IPv6
- 2. Implementar nos nossos próprios serviços, site www.zgh.cl, portal de clientes e ferramentas várias que são oferecidos.
- 3. Implementar na nossa primeira linha de clientes diretos, particularmente hosting, onde para eles a integração da rede foi transparente porque todo o serviço técnico é gerenciado por nós mesmos. Nesta etapa foram criados mais de 2.000 sites com o IPv6.
- 4. Oferecer aos nossos clientes que tenham administração própria ou compartilhada a oportunidade de implementar o IPv6, incluindo redes externas sem fio dos escritórios de nossos clientes (caso do Hipódromo Chile na sua rede sem fio para clientes em suas dependências de apostas). A nossos Downstream como Gamerlive, LevelUP e outros peer a quem oferecemos tráfego IP, habilitamos a porta, no entanto ainda estão estudando o assunto.
Também foi oferecido a toda nossa linha de servidores dedicados e serviços na nuvem onde já 20% dos nossos clientes tomaram a iniciativa de implementar o IPv6.
Você acha que as organizações estão conscientes da necessidade de implementar o IPv6 ou elas ainda pensam nela como uma coisa distante?
Para ser sincero, na verdade é que no Chile, a questão do IPv6 é vista como algo absolutamente distante, muitas empresas ainda não têm sequer nos seus planos dos próximos três anos implementar uma rede IPv6, porque vêem que ainda há espaço disponível para seguir apertando a rede IPv4. Mesmo que nos departamentos de redes das empresas os engenheiros e técnicos são cientes da importância deste assunto, na alta administração das organizações não é uma questão prioritária porque simplesmente não é “crítica” para o negócio. Também é importante notar que, no nosso país, há uma limitação a este respeito, uma vez que os principais ISP que oferecem serviços a clientes finais ou clientes domésticos não oferecem IPv6 aos seus clientes, eles apenas oferecem o serviço em algumas linhas de negócio, principalmente da Internet dedicada a empresas.
Qual foi o processo interno em sua organização para decidir avançar na implementação do IPv6? Foi a área técnica que convenceu a gerencia de realizar o investimento?
No nosso caso, a ideia surgiu da gerência. Felizmente, os líderes do Grupo ZGH têm um alto grau de conhecimentos técnicos, o que obviamente facilita a tomada de decisões em áreas deste tipo. Um dos sócios é engenheiro de informática com conhecimentos em redes, e está constantemente procurando novidades tecnológicas para estar à vanguarda e avançar na área de Datacenter, que está hospedada em Santiago do Chile. Por esta razão, o processo neste aspecto foi bastante simples, além de não exigir maior investimento tecnológico, já que todo o equipamento atual sem exceção, suportava o IPv6 em pilha dupla.
Quais são as principais dificuldades ao discutir sobre a implementação do IPv6?
A pouca iniciativa das grandes telcos de oferecer a rede IPv6. Há como uma resistência à implementação do IPv6, seja por desconhecimento, ou porque, em alguns casos, os computadores não suportam a tecnologia, ou porque a sustentam, mas com pouca certeza de se poderão ser operadas corretamente e tudo acabará em um completo fracasso e uma onda de reclamações dos clientes. Os roteadores são de escassos recursos e muitos não suportam o IPv6 em sua totalidade.
Considera que o Estado deveria promover políticas de adoção do IPv6, por exemplo, através de benefícios fiscais para as empresas que invistam nesta tecnologia?
Absolutamente. Eu acredito que o Estado, através da SUBTEL (Subsecretaria das Telecomunicações do Chile), seria um tremendo apoio para encorajar às empresas a implementarem o IPv6, pelo menos para os usuários finais. Desta forma, quem oferecemos conteúdo poderíamos testar a rede. Hoje, dos 2.000 sites com IPv6, o tráfego não ultrapassa sequer 2% em relação ao mesmo tráfego no IPv4. Isso é decepcionante e talvez seja por isso que muitas corporações não se atrevem a implementar o IPv6, já que o usuário que chega ao conteúdo oferecido não vem por outro caminho que não seja o IPv4. Portanto, acredito que implementar políticas públicas que promovam a mudança é vital para alcançar um crescimento considerável no IPv6.
Faltam redes com IPv6 ou falta conteúdo com IPv6?
Conteúdo há até demais, o que está faltando para nós são redes IPv6. No Chile, na atualidade, um total de 31 redes IPv6 são administradas pela sessão BGP local. Comparado com as mais de 4.500 redes no IPv4 (Chile), a verdade é que o número é insignificante. Mesmo que muitos provedores de conteúdo (datacenter, cdn, etc.) oferecem IPv6, os usuários finais não têm acesso ao IPv6, e isso impede instantaneamente o potencial crescimento desta versão IP.
As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.