Não há futuro com o atual fosso digital

29/09/2017

Não há futuro com o atual fosso digital

A conectividade à Internet cresce tanto quanto o fosso digital, e a esperança de que a rede se torne uma ferramenta de igualdade de oportunidades parece estar um pouco afastada da realidade. Assim poderia ser resumido o pensamento da maioria dos participantes do painel Inter Community “O Futuro da Internet: Fosso Digital”, organizado pela Internet Society (ISOC) durante LACNIC 28 em Montevidéu.

Em seus discursos, os painelistas enfatizaram que a capacidade de ser beneficiado pela Internet está determinada não apenas pela conexão à rede, mas também pelo acesso que têm as pessoas já conectadas (http://bit.ly/2xzYLQ8 ).

Sebastián Bellagamba, da ISOC, referiu-se a um estudo global encomendado pela Internet Society para determinar qual deveria ser o destino da Internet nos próximos cinco anos. Este relatório, entre outras conclusões, observou a preocupação “pela ameaça de novos fossos, que não apenas aprofundarão as diferenças já existentes, mas também na sociedade como um todo”. Nesse sentido, o relatório da ISOC afirmou que os fossos digitais não serão responsabilidade apenas do acesso à Internet, “mas também da diferença entre as oportunidades econômicas que estarão disponíveis para alguns, mas não para outros”.

Lito Ibarra, diretivo de LACNIC, garantiu que existem três tipos de fossos digitais: geográficos (áreas com melhor acesso do que outras), culturais (grupos sociais têm mais facilidade com a tecnologia) e geracionais (os jovens não usam a tecnologia para tirar proveito, mas sim por diversão). “Cada um desses três fossos deve ser trabalhado de modo diferente, mas ao mesmo tempo em coordenação um com os outros”, afirmou Ibarra.

O que podemos fazer para tentar aproveitar a Internet como um nivelador de oportunidades? – perguntou-se Ibarra. “Devemos procurar a especialização no que cada um é forte, bem como fazer das TIC um motor da economia”, respondeu.

Para Laura Kaplan, gerente de desenvolvimento e cooperação de LACNIC, a melhor forma de reduzir o fosso digital é apostando, desde a sociedade civil, à educação. É claro que a Internet é uma ferramenta com grande potencial, garantiu, portanto o que deve ser feito é contribuir com projetos educacionais e de inserção das pessoas. Nesse sentido colocou como exemplo a iniciativa Ayitic Goes Global, um projeto que fornece ferramentas para tentar inserir os haitianos na economia digital.

Enquanto isso, María Julia Morales, membro do capítulo uruguaio da ISOC, concordou com Kaplan em que existe um fosso interno que “sem educação, não pode ser salvo”. Para Morales, além da conectividade, sem educação é impossível conceber um país com desenvolvimento sustentável. Ela também disse que a qualidade da conexão afeta os níveis de oportunidades dos cidadãos. Para isso, acrescentou, é necessário que a conexão e a qualidade da Internet estejam ao serviço do cidadão como centro das políticas de Estado.

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Mauro Ríos, especialista em Tecnologias da Informação e presidente da ISOC Uruguai, disse que dar acesso às pessoas não significa abri-las ao mundo. E citou uma pesquisa chilena que indica que a maioria das pessoas em condições socioeconômicas mais vulneráveis tem na Internet uma vida virtual quase idêntica à real. “Sete de cada dez de seus contatos na Internet moram em sua área de influência física, a uma distância a pé”, assegurou.

“O acesso foi visto como a panaceia da abertura do mundo para as oportunidades, mas batemos as nossas cabeças contra a parede. Dar acesso às pessoas não quer dizer que o mundo vai se abrir para eles. Não estamos entendendo o contexto social dessas pessoas às que damos acesso, e acreditamos que dar-lhes acesso é dar-lhes oportunidades. O problema é como elas usam o acesso que lhes estamos dando: isso é o que não estamos acabando de entender”, disse Ríos.

O painel foi encerrado com um brinde para comemorar os 25 anos da Internet Society.

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