Endereços IPv4 estarão esgotados em maio: a LAC num ponto de inflexão
24/02/2014
Chegou a hora. Em maio vai acontecer o esgotamento dos endereços IPv4 e a incorporação da tecnologia IPv6 vai virar uma necessidade imperativa para manter e aumentar os níveis de desenvolvimento da Internet na América Latina e o Caribe.
Juan Peirano, oficial de Políticas do Registro de Endereçamentos da Internet para a América Latina e o Caribe, LACNIC, lidera uma das equipes dessa organização que iniciou uma série de visitas e reuniões com autoridades e empresários dos países da região a fim de informar sobre a finalização dos recursos do protocolo IP versão 4 da Internet e as mudanças tecnológicas que devem ser implementadas para permitir o normal desenvolvimento da rede.
Esta nova etapa requer da participação ativa de todos os atores relevantes a fim de torná-la o mais suave possível, garantindo o crescimento contínuo da Internet através de uma correta transição para a versão 6 (IPv6) do protocolo da Internet, de uma forma estável e segura.
Em diálogo com Lacnic News, Peirano salientou que o esgotamento do IPv4 deixa a região em um ponto de inflexão “em que deve ser escolhido o caminho (IPv6) que levará a um desenvolvimento estável e seguro da Internet ou um que a atrase do resto do mundo e evite a massificação total da Internet”.
Qual é o objetivo da turnê IPv6 pelos países da região?
O objetivo principal da turnê é gerar consciência na comunidade de LACNIC sobre o iminente esgotamento do estoque regular dos endereços IPv4, estimado para maio, e promover e apoiar o desenvolvimento e implementação do IPv6 em todo o ecossistema da Internet dentro de nossa região.
O que significa a fase de esgotamento do estoque regional dos endereços IPv4 prevista para maio?
Basicamente que a disponibilidade de endereçamento IPv4 vai ficar muito restrita depois de atingir o esgotamento do estoque regular, podendo-se acessar quantidades muito pequenas de endereços, associados a políticas extremamente rígidas de distribuição de recursos.
Por que resulta importante que os países e os provedores tenham blocos de IPv6?
Isso poderia ser considerado como um primeiro passo fundamental para a adoção do protocolo. Com a turnê pretendemos que as organizações não apenas tenham um bloco designado a sua organização, mas também que comecem a se movimentar pelos caminhos necessários para uma implementação rápida, já que o crescimento da rede, depende absolutamente da adoção do protocolo IP em sua versão 6.
Existe outra solução à implementação do IPv6?
Existem soluções alternativas, baseadas na tecnologia de NAT e no uso de endereçamentos privados, uma situação muito semelhante a que pode ser observada na operação dos roteadores domésticos, através de um endereço IPv4 só, são conectados vários dispositivos na rede doméstica.
De qualquer forma, essas soluções NÃO são escaláveis e são sumamente restritivas em longo prazo, sem falar do alto custo das mesmas.
Em muitos casos esse tipo de soluções podem ser usadas como mecanismos de ajuda para a transição do IPv6, mas não podem ser consideradas jamais como uma solução final para qualquer tipo de rede, por menor que seja.
Por que essa solução alternativa é mais cara no longo prazo?
As soluções baseadas em NAT têm um fator determinante do ponto de vista tecnológico que é o uso de portos para realizar as traduções desde endereços públicos para endereços privados. Isso faz com que sejam necessários equipamentos muito caros e com grande capacidade de processamento, portanto com um patamar na hora de gerenciar a quantidade de endereços.
Com essas soluções, chega um momento que o equipamento utilizado não pode processar a quantidade de endereços necessários, portanto deve ser comprado outro equipamento com as mesmas características para que a rede possa crescer, obtendo-se assim um ciclo de gastos muito altos para a manutenção da rede.
Por sua vez, essas soluções implicam um gasto maior de manutenção e um gasto maior de suporte técnico, porque eles são mais propensos a ter falhas ou introduzir erros em aplicações que “correm” em uma rede.
Caso não tenham IPv6, os negócios dos provedores da Internet ou os planos de desenvolvimento da Internet de um país podem ser afetados?
Absolutamente. Do ponto de vista do negócio, a capacidade de chegar a novos usuários e gerar novos serviços e aplicativos, está totalmente restringida. As redes não podem crescer somente com o IPv4, e mais ainda levando em conta que os fenômenos atuais apontam à “Internet das Coisas”, em que quase todos os dispositivos do nosso dia-a-dia vão estar conectados à Internet.
Do ponto de vista governamental, os planos de universalização do acesso podem ser seriamente afetados por falta de endereçamento. Nesse caso, é fundamental que os governos atuem como líderes na implementação do IPv6, permitindo o acesso equitativo para todos os membros da comunidade.
Quais benefícios recebem os usuários da Internet se seus provedores trabalharem sobre o protocolo IPv6?
Para o usuário final, a adoção do protocolo pode ser vista como algo quase transparente, uma vez que, em geral, estamos acostumados a ter maior conectividade a cada dia e em mais lugares de forma aberta.
O problema surge quando esse crescimento deixe de acontecer, e todos nós, como usuários da Internet, sejamos afetados por situações de baixa conectividade, cara e com muitos erros.
É por isso que estamos em um ponto de inflexão em nossa região, em que devemos escolher o caminho que nos levará a um desenvolvimento estável e seguro da Internet ou um que nos atrase do resto do mundo e evite a massificação total da Internet na região.
Quantas organizações da região já têm IPv6?
Mais de 60% das organizações da região de LACNIC já tem pelo menos um bloco IPv6 designado. Isso, como foi dito antes, é o primeiro passo para continuar para a implementação, que desde LACNIC esperamos aconteça nos próximos meses de forma crescente na região toda.
Para acessar as informações sobre os processos e as quatro etapas que envolvem o processo de esgotamento dos endereços IPv4 na região de LACNIC entrar a: http://www.lacnic.net/web/lacnic/agotamiento-ipv4
As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.