“Ampliar o acesso à Internet no Haiti será uma realidade a curto prazo”
01/10/2013
Começou a andar Ayitic, um projeto que visa fortalecer as capacidades digitais do Haiti, um dos países menos desenvolvidos do continente e severamente afetado por desastres naturais nos últimos anos. Impulsionada pelo Registro de Endereçamento da Internet para a América Latina e o Caribe, o LACNIC, a iniciativa, chamada Ayitic “Internet para o Desenvolvimento”, tem como objetivo capacitar técnicos e profissionais na área das tecnologias de informação e comunicação para ampliar a base de acesso à Internet no país caribenho, em que apenas 8 de cada 100 habitantes têm conexão.
Edmundo Vitale é o coordenador de Ayitic e está muito animado com a ampliação da base de acesso à Internet no “curto e médio prazo”.
Em diálogo com o LACNIC News, Vitale salienta o espírito do projeto e encoraja outras organizações para aderir à proposta.
Quais são os objetivos do projeto Ayitic “Internet para o Desenvolvimento” no Haiti? Quais serão suas principais linhas de ação e quem serão seus beneficiários diretos e indiretos?
O projeto Ayitic “Internet para o Desenvolvimento”, tem por objetivo geral, contribuir diretamente para gerar capacidades técnicas e profissionais no Haiti na área das tecnologias de informação e comunicação, as TIC.
Com a implementação desse projeto, pretende-se atingir três resultados concretos: desenvolver um sistema estruturado de capacitação e fortalecimento; gerar um modelo institucionalizado que dê suporte, continuidade e garanta a sustentabilidade do projeto; e, desenvolver instrumentos que permitam a avaliação do impacto em médio prazo.
As principais linhas de ação estão diretamente relacionadas com a identificação das necessidades que tem o país em matéria de recursos humanos capacitados em TIC, de conhecer os lineamentos e políticas do governo em termos dos planos de desenvolvimento para o país, de precisar diretamente das empresas privadas do setor das telecomunicações e afins, quais são as tendências tecnológicas que serão implementadas no país no curto e médio prazo, em suma, ter muito claro qual é a realidade do país e uma vez conhecidas todas essas incógnitas ou tê-las, pelo menos, mais claras, definir quais são as melhores propostas de treinamento para eles.
Os beneficiários são todos os profissionais de TI do país, mas estamos pensando que no futuro deveríamos envolver também os estudantes universitários dos últimos anos das carreiras em assuntos relacionados com as TIC, além de fazer um esforço por levar este modelo de capacitação ao interior do país.
Qual é a sensação de liderar esse projeto que tenta promover o desenvolvimento das Tecnologias de Informação (TIC), em um país tão espancado como o Haiti?
A resposta é rápida, estou me sentindo muito útil ao contribuir para esta nobre causa que tenho certeza vai ajudar ao fortalecimento dos recursos humanos que o Haiti requer na área das TIC… também me sinto muito feliz de trabalhar nesta iniciativa que tem um grande componente social envolvido no tecnológico
Quando fazemos uma breve história do que aconteceu em 12 de janeiro de 2010, com um terremoto de magnitude 7.0 que sacudiu o sudoeste do Haiti e destruiu grande parte da capital, Port-au-Prince, devemos reportar que como consequência desse fato, 87% das instituições de ensino superior no Haiti deterioraram-se fortemente em sua estrutura física ou foram demolidas completamente. Um grande segmento de profissionais qualificados emigrou do Haiti e outros morreram como resultado do desastre do terremoto.
Portanto, este projeto tem como objetivo colocar um grão de areia ou colaborar com o plano de recuperação e desenvolvimento criado pelo governo do Haiti que tem sido chamado “Plano de Ação para a Recuperação e o Desenvolvimento do Haiti” (PDNA), em parceria com a comunidade técnica, a sociedade civil e a cooperação internacional.
O PDNA tem salientado como aspectos prioritários: a reconstrução da banca de recursos humanos qualificados; o desenvolvimento de técnicas de informação e de comunicações modernas e eficientes nos serviços públicos (desenvolvimento da Internet, das redes numéricas e a implementação da telefonia móvel para a comunicação Estado-Cidadania).
Neste contexto, e em consonância com a visão do LACNIC de promover e defender os interesses da comunidade regional e colaborar na criação das condições necessárias para que a Internet seja um instrumento efetivo de inclusão social e desenvolvimento econômico, criamos e estamos impulsionando o projeto Ayitic.
Em que período de tempo considera que o Haiti vai poder implantar efetivamente infraestrutura como para expandir sua base de acesso à Internet?
Expandir sua base de acesso à Internet certamente será uma realidade a curto e médio prazo. Estabelecer um tempo efetivo para fazê-lo implica conhecer as decisões políticas e econômicas que o governo pretende implementar no futuro, porém, estando cientes que eles estão preocupados por desenvolver sistemas de comunicações digitais modernos como observamos nas entrevistas que mantivemos com alguns funcionários do governo durante a preparação da oficina de agosto. Tudo parece apontar a que graças ao apoio da comunidade técnica local, ao próprio interesse do governo e ao apoio de organizações de cooperação internacional que permitam financiar importantes iniciativas de incorporação de novas tecnologias, será possível estabelecer no país uma infraestrutura que permita expandir a base de acesso e serviços à Internet. Todas essas mudanças devem ir acompanhadas do fortalecimento e aprimoramento da capacidade técnica de sua forca de trabalho e profissional nas TIC.
Dado o atual contexto de problemas sociais e económicos graves com infraestrutura diminuída por recentes catástrofes naturais, quais são as chaves para tornar a Internet uma ferramenta para a inclusão social e impulsionar a economia local do Haiti?
Embora já exista um impulso que está sendo observado na comunidade internacional e portanto, de alguma forma já tem atingido uma pequena parte da sociedade haitiana, as políticas de inclusão, de comunicação moderna entre os órgãos governamentais e os cidadãos, o empreendimento dos setores privados que veem nas Telecomunicações e nas TIC em geral uma via de grande potencial social e econômico para o fornecimento de serviços de comunicação modernos, a realização das relações entre comunidades, a necessidade de impulsionar planos oficiais para levar a cultura da Internet e das novas tecnologias em geral ao setor da educação, na minha opinião, devem ser as chaves para incorporar definitivamente a Internet como uma meio eficiente e moderno de comunicação bem como um mecanismo para potencializar as relações entre empresas, cidadãos e governo, a fim de conseguir impulsionar a economia do país.
Isso obviamente constitui um complexo sistema que se retroalimenta e que está interligado entre si, além de influenciar em todos os sectores que compõem a vida no país.
A presença de organizações como o LACNIC desempenha também um papel muito interessante no desenvolvimento dessa cultura de incorporação das novas tecnologias e, portanto, da Internet.
Que outros atores da região deveriam envolver-se nessa iniciativa?
Nestas iniciativas, é fundamental ter apoio financeiro, institucional e acadêmico, de modo que se pudermos sincronizar esta trilogia de requisitos, esta iniciativa que surge do LACNIC para formar recursos humanos no Haiti, vai poder transformar-se num projeto formado por aliados, sustentável, estável e com objetivos muito relevantes, positivos e de alto impacto para o desenvolvimento integral do país.
Organizações internacionais e multilaterais que operam no Haiti ajudando a construir e desenvolver o país devem ser contatadas para apoio financeiro: PNUD, USAID, a OEA, o Banco Mundial, o BID e outros.
Organizações sem fins lucrativos que têm tido uma interessante trajetória na formação de recursos humanos em TIC na região da América Latina, apoiando também outras iniciativas similares na África e em outras regiões do leste europeu, também deveriam ser convidadas: entre outras, NSRC, Fundação EsLaRed, ICTP.
As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.