“A única tecnologia possível para construir a Internet das Coisas é o IPv6”
31/08/2015
A Internet das Coisas é um termo familiar que começou a ser usado para definir situações da vida cotidiana que exigem conectividade à Internet. Trata-se de adicionar todos os dispositivos possíveis à rede, o que está diretamente relacionado com mais endereços IP, isto é, com o IPv6.
Nesse trabalho de conectar todas as coisas ao nosso redor à Internet, encontra-se o engenheiro Gustavo Mercado, que trabalhou em projetos que usam endereços IP a grande escala (isto é, muitos dispositivos conectados), como o projeto dos sensores 6LowPAN.
Mercado afirmou que o IPv6 é a única tecnologia possível para conectar “bilhões à Internet” e construir a Internet das Coisas.
Em diálogo com a LACNIC News, Gustavo apontou que a Internet das Coisas vai estar “cada vez mais presente em nossas vidas”.
O que se entende por “a Internet das Coisas”?
A Internet das Coisas (IoT) é um novo paradigma que está rapidamente tomando valor nas comunicações digitais, principalmente de tecnologia sem fio. O ponto central é que, atualmente, há variedade de coisas ou objetos ao nosso redor como: identificação por radiofrequência (RFID), etiquetas, sensores, atuadores, telefones celulares, etc. – que são capazes de interagir e cooperar com os seus vizinhos para atingir objetivos comuns.
O termo Internet of Things foi cunhado por Kevin Ashton em 1999, que referia principalmente à coletividade através de etiquetas RFID. Mas, sem dúvida, a Internet das Coisas tem crescido usando redes de sensores sem fio e da padronização do IEEE e IETF.
Você poderia nomear um exemplo quotidiano de como funciona a Internet das Coisas?
Hoje existem múltiplos aplicativos que podem ser chamados como IoT. Por exemplo, se um aplicativo de celular é usado para encontrar um lugar de estacionamento gratuito na cidade, então estamos na presença de uma SMART CITY.
De um lado, se eu sou um agrário e uso uma rede de sensores sem fio conectada à Internet, cujos nodos medem a temperatura e umidade na minha terra, e que me permite prever as “geadas” e agir em conformidade, estarei usando o que é chamado de “agricultura de precisão”. Do outro lado, se na minha casa eu tiver um medidor de energia elétrica digital que me permite verificar em tempo real qual é meu consumo e, se, além disso, me permite vender à companhia elétrica meu excesso de energia gerado por meus Painéis Solares, então eu vou estar na presença de um SMART GRID.
Tudo isso é uma pequena parte dos exemplos atuais da Internet das Coisas. Agora devemos imaginar quais serão os aplicativos do futuro.
Como a gente deve se preparar para a Internet das Coisas?
Como usuários, a IoT vai estar cada vez mais presente nas nossas vidas. A sociedade moderna, principalmente nas cidades, tem um forte atrativo para que os governos e as companhias invistam em oferecer mais serviços aos usuários. Os governos que pretendam prestar melhores serviços aos cidadãos poderão incluir aplicativos de IoT para otimizar os serviços de e-governo.
As empresas, por sua vez, terão uma boa oportunidade de negócios ao se juntar com essas tecnologias.
Por outro lado, as escolas técnicas e universidades irão formar profissionais qualificados para realizar projetos de IoT.
Qual é a relação da Internet das Coisas com o IPv6?
Como hoje está apresentado, a única tecnologia possível para construir a Internet das Coisas é o IPv6.
Se dissermos que bilhões de dispositivos serão conectados à Internet em um futuro próximo e, além disso, reconhecermos que os endereços do IPv4 estão se esgotando, é natural que IoT deva ser implementada sobre o IPv6.
De fato, o IETF tem padronizado o stack da IoT através de um protocolo chamado 6lowPAN (RFC 4944).
Em quais projetos tem trabalhado sob esse conceito?
Nosso grupo de pesquisa está trabalhando em redes sensores sem fio desde 2009.
Nosso principal projeto é uma rede de sensores para pesquisa agrária. Nosso primeiro aplicativo, a rede SIPIA, usava protocolos proprietários dentro da rede de sensores e um coordenador que permitia conectar-se à Internet mediante IPv4. A segunda versão, SIPIA6, já tem incorporado IPv6 (6lowPAN) nos nodos sensores e no coordenador.
Outro projeto que estamos começando é um aplicativo de SMART GRID com geração de energia fotovoltaica distribuída. Esse projeto é evado adiante com uma empresa de distribuição de energia da área e com a empresa provincial de energia. O objetivo é converter uma porção da rede de distribuição de energia doméstica e industrial numa SMART Grid.
Quais desses projetos poderão ser realizados, da mesma forma, inclusive sem o IPv6?
Mesmo que existam algumas tecnologias que fazem parte da IoT e não usam o IPv6, como por exemplo RFID ou ZigBee, a tendência é migrar essas tecnologias para IP.
Atualmente, apenas projetos pequenos e fechados em si mesmos podem ser implementados sem o IPv6.
Segundo seu ponto de vista, qual é a evolução natural da Internet das Coisas?
Para mim, e de acordo aos prognósticos económicos atuais, a IoT vai ser uma tecnologia de grande futuro, a partir da ideia de que a procura popular em combinação com os avanços tecnológicos vai impulsionar o uso generalizado de IoT. Isso poderia contribuir inestimavelmente no desenvolvimento econômico, da forma que acontece com a Internet atual.
Além disso, como temos visto, um ponto importante para alcançar total interconectividade é a padronização dos protocolos de interconexão. Como vem acontecendo desde os anos 80, se quisermos que nossos dispositivos se conectem todos entre si, a melhor forma é usar padrões abertos. Por isso eu vislumbro que o IETF tem y vai ter um papel muito importante no crescimento da IoT. De fato, hoje já estamos usando protocolos como 6lowPAN, RPL, CoAP, etc. Todos eles padronizados pelo IETF.