A Década Perdida do IPv6

02/09/2025

A Década Perdida do IPv6
Desenhado por Freepik

Por Henry Alves de Godoy

Em uma linha do tempo que organizei recentemente para uma apresentação, um ponto me chamou a atenção e por isso resolvi escrever esse texto. Um intervalo de tempo que considero como o elo perdido da Internet entre os anos 2000 e 2010.

A escassez anunciada

O esgotamento do IPv4 já era previsto desde o início dos anos 1990. A Internet crescia em ritmo acelerado, e o modelo de endereçamento implementado de maneira única e global em 1º de janeiro de 1983, trazia “apenas” 4,3 bilhões de endereços. Lembrando que a população mundial na década de 1980 era de aproximadamente 4,4 bilhões de pessoas, então parecia que o calculo realizado era razoável.

Acreditamos que seria o suficiente para todos, para uma Internet acadêmica ou corporativa dos anos 80, mas na verdade estava longe de atender um mundo em de forte expansão em conectividade.

As primeiras respostas técnicas

Ainda assim, a comunidade técnica especialmente dentro do IETF (Internet Engineering Task Force), não ficou parada. Em 1994, surgia a RFC 1631, que introduzia o NAT (Network Address Translation) como uma solução temporária (K. Egevang e P. Francis). Sua função era mitigar a escassez de endereços públicos.

Paralelamente, um grupo analisava propostas para uma nova versão do IP (IP Next Generation – IPng), que culminou em 1995 com a RFC 1883, o primeiro documento técnico descrevendo o que viria a ser o IPv6. Essa especificação teve como autores Steve Deering (Xerox PARC) e Bob Hinden (Ipsilon Networks), dois nomes que merecem reconhecimento por sua visão de futuro.

Em 1998, após ajustes finais, o IPv6 foi formalmente padronizado com o RFC 2460 e o novo protocolo estava pronto para uso. Ele trazia soluções como, por exemplo, maior espaço de endereçamento (128 bits), simplificação de cabeçalhos, auto-configuração, mobilidade, segurança nativa via IPsec, e o principal, a eliminação da necessidade de NAT.

(Acesso livre, não requer assinatura)

Tudo estava documentado. A infraestrutura estava tecnicamente pronta. Só faltava agir.

A década perdida (2000–2010)

Infelizmente, entre os anos 2000 e 2010, enquanto a Internet experimentava uma forte expansão, a infraestrutura que iria moldar o futuro da conectividade foi de certa forma ao meu ver negligenciada.

Foi a década da banda larga, da explosão do Wi-Fi, do surgimento de milhares de pequenos provedores locais em todo o mundo. O acesso cresceu, a demanda por IPs aumentou exponencialmente e, todos os esforços com o IPv6 foi ignorado. Em um momento em que mais iríamos precisar de endereços IP para atender os usuários residenciais, comércios, empresas, resolvemos optar por um caminho contrário a tudo que foi preparado, que ainda procuro tentar entender.

As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.

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