Por que os IXP são importantes: Construindo infraestrutura além do hype

01/08/2025

Por que os IXP são importantes: Construindo infraestrutura além do hype
Desenhado por Freepik

Por Antonio Prado e Flavio Luciani

Os pontos de troca da Internet (IXP) são frequentemente ignorados em discussões sobre infraestrutura crítica. No entanto, seu papel na estabilidade do roteamento, na resiliência local e na soberania digital é inegável. Neste artigo, exploramos o que acontece quando os IXP falham e por que classificá-los como infraestrutura crítica não é apenas uma formalidade burocrática, mas uma necessidade sistêmica.

Quando os IXP falham: consequências e lições do mundo real

O que é um IXP e por que ele é importante?

Um ponto de troca da Internet é uma instalação física de interconexão onde vários sistemas autônomos (AS) trocam tráfego IP. Em vez de rotear o tráfego através de provedores upstream caros, as redes podem fazer peering diretamente, reduzindo os custos, a latência e a dependência do trânsito. A maioria dos IXP consiste em uma infraestrutura de comutação de alto desempenho, servidores de roteamento e ferramentas opcionais de medição e monitoramento. Além da eficiência técnica, os IXP dão suporte à resiliência nacional, melhoram a experiência do usuário mantendo o tráfego local e servem como nós de coordenação críticos em tempos de crise. No entanto, apesar de seu papel fundamental na arquitetura da Internet, os IXP costumam operar por fora da conscientização pública e das estruturas políticas. Como resultado, suas vulnerabilidades tendem a ser subestimadas.

O paradoxo da visibilidade

Apesar de sua função crucial, os IXP são muitas vezes invisíveis tanto no discurso público quanto nas políticas de infraestrutura. Este “paradoxo da visibilidade” gera três riscos sistêmicos:

  1. Otimização econômica em detrimento da resiliência. O tráfego é roteado cada vez mais através dos IXP principais devido ao custo e à eficiência, concentrando riscos.
  2. Dependência das redes menores. Muitos ISP pequenos dependem de um único IXP para acessar conectividade acessível e grandes provedores de conteúdo.
  3. Centralização topológica. Alguns IXP nos mesmos locais físicos transportam quantidades desproporcionais de tráfego regional, criando vulnerabilidades estruturais.

Quando os IXP falham: exemplos da vida real

Analisemos o que acontece quando um IXP falha. A seguir, apresentamos incidentes reais que ilustram as dependências sistêmicas desses nós.

Quênia (KIXP): construir resiliência com um orçamento limitado

Em 2000, o governo tentou bloquear o lançamento do Ponto de Troca da Internet de Quênia. Somente uma forte defesa da comunidade técnica local conseguiu preservá-lo. Desde então, a KIXP reduziu os custos de trânsito nacional em mais de 70% e melhorou a estabilidade das rotas, apesar dos recursos limitados.

Sudão: isolamento nacional total

Durante os apagões da Internet de 20212023, a falta de um IXP local robusto no Sudão significou que até mesmo o tráfego interno foi cortado. A ausência de interconexão nacional tornou o país completamente dependente dos laços internacionais, que foram politica e tecnicamente cortados.

(Acesso livre, não requer assinatura)

Fonte: Cloudflare

Brasil (IX.br): redundância liderada sob o modelo multissetorial*

O IX.br do Brasil, coordenado pelo CGI.br, opera IXP em 35 locais diferentes. Durante o aumento repentino do tráfego em 2020 na pandemia, sua ampla cobertura geográfica ajudou a absorver os enormes aumentos de tráfego. Seu modelo comprova que a coordenação colaborativa e a descentralização melhoram a resiliência sistêmica.

Alemanha (DE-CIX): queda de energia, grande impacto

Em 2018, uma queda de energia no Interxion FRA5 (que hospeda um importante switch DE-CIX) provocou uma falha parcial do IXP. A perda resultante de visibilidade do BGP afetou rotas na Europa toda. Mesmo com redundância integrada, esse incidente destacou o quanto muitos AS dependem de um único local físico.

As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.

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