O IPv6 e sua importância para a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
06/08/2024
Por Henri Alves de Godoy, Computer Network Analyst | Professor Ph.D. | IPv6 HoF Evangelist | AWS CCP
O CERN é um centro de excelência em pesquisa científica, onde físicos de todo o mundo colaboram para explorar as propriedades fundamentais das partículas subatômicas. O principal instrumento do CERN é o Grande Colisor de Hádrons (LHC), o maior e mais potente acelerador de partículas do mundo. O CERN também é muito conhecido na área de tecnologia da informação pois foi lá que a World Wide Web (WWW) foi inventada pelo cientista Tim Berners-Lee em 1989 para melhorar a comunicação entre pesquisadores e graças a essa pesquisa hoje nós podemos navegar na Internet.
Da mesma forma, no Brasil temos o SIRIUS, localizado em Campinas/São Paulo, é uma das mais avançadas fontes de luz síncrotron do mundo e representa um marco significativo para a ciência e tecnologia no Brasil e temos que nos orgulhar por isso. O SIRIUS permite a realização de experimentos científicos de altíssima complexidade e precisão, que não seriam possíveis em outras infraestruturas, possibilita o desenvolvimento de novos medicamentos e tratamentos além de servir como um centro de formação para cientistas e engenheiros. Estudantes de graduação e pós-graduação têm a oportunidade de realizar experimentos de ponta e colaborar com pesquisadores de renome internacional
Mas o que o Protocolo IPv6 tem em relação com a pesquisa e desenvolvimento?
Em um artigo comentei sobre a desigualdade tecnológica causada pelo atraso da adoção do IPv6 e que a transição para o IPv6 não é apenas uma questão de necessidade técnica, mas também uma questão estratégica para o futuro do desenvolvimento econômico e tecnológico de qualquer nação
Seguindo nessa mesma linha de pensamento recentemente Tim Chown apresentou sobre a implantação do IPv6 no CERN e suas questões operacionais. Essa apresentação confirma o que escrevi no artigo, tratando a adoção do protocolo IPv6 de forma crucial tanto para o CERN quanto para o SIRIUS devido às suas necessidades específicas de rede e comunicação de dados. A apresentação destaca:
- Necessidade de Endereçamento: Tanto o CERN como o SIRIUS opera uma das maiores redes de pesquisa do mundo, com milhares de dispositivos conectados, incluindo servidores, computadores pessoais, sensores e equipamentos de laboratório. O IPv6, com seu vasto espaço de endereçamento (2^128 endereços), garante a expansão de sua infraestrutura sem se preocupar com a escassez de endereços IP.
- Crescimento Contínuo: Com o aumento contínuo de dados gerados por experimentos, como os do LHC do CERN e a fonte de luz síncrotron do SIRIUS a necessidade de novos dispositivos e, consequentemente, novos endereços IP, aumenta constantemente.
- Compatibilidade Global: Como uma organização que colabora com cientistas e instituições de todo o mundo, o CERN e o SIRIUS precisam de um protocolo de Internet que funcione de maneira uniforme em diferentes regiões. O IPv6 facilita essa interoperabilidade global.
- Transmissão Eficiente de Dados: Tanto o CERN quanto o SIRIUS gera e processa grandes volumes de dados experimentais. O IPv6 pode melhorar a eficiência na transmissão desses dados, reduzindo a latência e aumentando a velocidade das transferências de dados.
Universidades e Centros de Pesquisa frequentemente colaboram em projetos que requerem o compartilhamento de grandes volumes de dados experimentais. Por exemplo, os dados gerados pelo LHC no CERN são analisados por cientistas de todo o mundo. Esses centros estão preparados já para se comunicar com IPv6. No gráfico da Figura 1, temos uma comparação entro o volume de tráfego entre IPv4 e IPv6. Podemos perceber que o tráfego IPv6 é superior ao IPv4.
As Universidades e Centros de Pesquisa que não adotam o IPv6 podem enfrentar dificuldades de interoperabilidade com outras Instituições que já utilizam o protocolo, dificultando a colaboração internacional.
Imagine uma pesquisa importante ou a necessidade de estar colaborando com um Centro de Pesquisa, mas você ainda não tem o protocolo IPv6 e isso seja um requisito técnico para que você participe? Se você não está preparado para o IPv6, simplesmente não poderá se juntar à colaboração. Isso significa perda de acesso a dados valiosos, financiamento potencial e oportunidades de publicação além do isolamento cientifico de redes de pesquisa internacionais que já migraram para o IPv6, limitando suas colaborações futuras.
Portanto, a falta de preparação para o protocolo IPv6 pode ter consequências sérias para Universidades e Centros de Pesquisa, excluindo-a de colaborações importantes, dificuldades técnicas, impacto no desempenho da rede e problemas de segurança.
Avançar na adoção do protocolo IPv6 é essencial e urgente. Não devemos deixar para depois, pois os custos de adiar essa transição serão significativamente maiores, tanto em termos financeiros quanto em oportunidades científicas perdidas. Investir agora na transição para o IPv6 garantirá que Universidades e Centros de Pesquisa permaneçam na vanguarda da ciência e da inovação, aptos a participar plenamente das colaborações internacionais que moldam o futuro da pesquisa e desenvolvimento científico.
As opiniões expressas pelos autores deste blog são próprias e não refletem necessariamente as opiniões de LACNIC.