Internet para alertar sobre catástrofes naturales em La Paz

08/08/2023

Adriana Ticonipa Gutiérrez sempre morou em La Paz (Bolívia). Ao longo da história, esta cidade tem sido propensa a vários desastres naturais, dentre eles podemos destacar mais de 70 deslizamentos. Além disso, a crise climática agravou os episódios meteorológicos, como as precipitações intensas e a atividade sísmica; fatores que aumentam o risco de deslizamento, gerando uma ameaça para a sustentabilidade urbana, a segurança das pessoas, a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas terrestres.

Com forte compromisso social pelo seu país, Adriana Ticonipa Gutiérrez decidiu focar sua carreira profissional em achar soluções aos diferentes problemas emergentes da sociedade boliviana associados aos Objetivos de Desenvolvimentos Sustentáveis. E foi assim que se inspirou em seus conhecimentos para o desenvolvimento de um Sistema de Monitoramento para a Detecção de Deslizamento em Áreas de Risco, mediante o uso de Internet das Coisas e uma rede de sensores sem fio (WSN).

O projeto foi um dos selecionados pelo Programa de Mentoria de IT Women do LACNIC para receber apoio de um tutor, bem como acesso a cursos e treinamentos. Sua proposta consistiu em implementar uma das tecnologias emergentes, como a Internet das Coisas, por exemplo, baseada em uma rede de sensores sem fio com topologia de malha.

A profissional fez uma análise das zonas de risco em La Paz sobre os fatores que geram os desabamentos. Seu trabalho também incluiu uma pesquisa documentária e experimental referente aos deslizamentos, tomando como referência o Projeto de Grau realizado. Com o intuito de identificar as variações no monitoramento, a área de estudo e o procedimento atual, usou a metodologia TopDown para a elaboração do desenho da rede e da implementação do sistema, assim como para realizar as respectivas provas.

Devido ao risco de deslocamentos de terra, La Paz conta com a      USAT-GAMLP, encarregada pelo monitoramento hidrometeorológico e geodinâmico. Uma das técnicas utilizadas para a identificação da magnitude do movimento superficial é o uso de testemunhas de monitoramento geodinâmico, cuja função é supervisar o comportamento de deslizamentos quando houver fissuras provocadas pelos movimentos de terra. Entretanto, este monitoramento manual carece de alertas automáticas (por ser manual) e não conta com continuidade na medição. Tudo isso põe em risco também a integridade do empregado técnico. 

O sistema de monitoramento impulsionado por Ticonipa Gutierrez, considera que, apesar de o monitoramento de testemunhas basear-se em movimentos de terra, também é relevante avaliar outros fatores como a umidade, a temperatura do ambiente e as precipitações. Esta informação precisa, em tempo real, e, em logo período, é importante para sua análise posterior.

O trabalho desenvolvido por Adriana Ticonipa permitiu gerar um sistema de monitoramento contínuo, baseado em IoT e em uma rede de sensores sem fio como método alternativo ao usado atualmente. Contudo, o sistema implica a geração de alertas automáticos para a tomada de ações preventivas de forma oportuna, a fim de compreender melhor o comportamento dos deslizamentos e evitar assim perdas econômicas e humanas. O trabalho está direcionado a atingir o objetivo de desenvolvimento sustentável 11 e 13: ação pelo clima e voltar às cidades mais resilientes e sustentáveis. O projeto já foi realizado de forma experimental como prova piloto e permitiu gerar alertas conforme a magnitude e o grau de avanço.

Ticonipa tem como objetivo que a Unidade de Sistema de Alerta Prematuro consiga implementar esse sistema. Nesse sentido, propõe o seguinte: “É importante considerar que dito sistema é escalável, já que o monitoramento de deslizamento está composto por diferentes sistemas de monitoramento, bem como por distintas vaiáveis de monitoramento. Cada um contribui com informação valiosa para o sistema. Além disso, foram tomadas como variáveis de monitoramento o movimento da terra e o ângulo de inclinação, há também outros fatores que podem ser inclusos na análise dos desabamentos, como: o historial de deslizamentos, as condições climáticas, geológicas e meteorológicas. Razão pela qual é importante a informação capturada, já que servirá para sua posterior análise e uso. Podemos emitir alertas em tempo real e armazenar os dados em Firebase para serem analisados posteriormente”.

O sistema proposto é de baixo custo e permite enviar os dados à nuvem em tempo real, comentou a engenheira. Além do mais, é importante levar em consideração outro tipo de sistemas de monitoramento, como a análise de imagens de satélites, o sistema de informação geográfica, o uso de inteligência artificial e a implementação de modelos matemáticos, entre outros; com o intuito de integrar diversos mecanismos e conseguir uma compreensão mais ampla sobre este assunto. “Queremos contribuir para uma gestão mais efetiva dos deslizamentos e para a mitigação de sus efeitos negativos”, explicou a profissional.

“A tecnologia nos permite incursionar em diferentes áreas”, acrescentou. “A minha formação em sistemas me introduziu no mundo de desastres naturais e mudança climática, o qual me motiva a aprender mais sobre isso. Quero incentivar mais pessoas a usarem a tecnologia e seus conhecimentos para que possam achar soluções aos distintos problemas emergentes em nossa sociedade, com base nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Espero que isto seja uma janela aberta e uma oportunidade para buscar apoio, com o intuito de que estas iniciativas e projetos possam ser implementados”, concluiu.

Para apoiar iniciativas semelhantes, está aberta uma nova edição do Programa de Mentoria de IT Women. Confira a informação na íntegra aqui.