Nicolas Antoniello “Quinze anos é praticamente a metade da vida da Internet”

31/07/2017

 

Nicolas Antoniello se formou como Engenheiro no Uruguai quase no mesmo momento que LACNIC nascia à vida institucional. E a partir de aquele momento ele sentiu curiosidade pela atividade do Registro Regional da Internet da América Latina e o Caribe.

Pouco depois, somou a sua voz aos fóruns de LACNIC e começou a propor políticas regionais e globais, trabalhando em questões de governança da Internet.

Desde sua experiência como moderador do fórum de Políticas Públicas de LACNIC, onde teve contato permanente com a comunidade, Antoniello salientou o papel do ecossistema regional da Internet nestes 15 anos de LACNIC. 

Há 15 anos, qual era a sua relação com o mundo das TIC?

Quinze anos é praticamente a metade da “vida” da Internet. No que a mim respeita, há 15 anos eu estava obtendo meu título de engenheiro e queria, não apenas aplicar todo esse conhecimento, mas também me desenvolver em outras questões como a governança na Internet, desenvolvimento de redes de dados e protocolos, etc. Eu começava a trabalhar como engenheiro no Centro de Operações de ANTEL, o ISP estadual do Uruguai, onde de fato entrei totalmente no mundo da Internet e das redes. Eu me lembro que naquela época os serviços eram praticamente todos discados (MODEM e velocidades de 44100 bauds, uma medida de velocidade de dados que há alguns anos entrou em desuso); e apenas começávamos a implementar os primeiros serviços DSL no Uruguai com todos os problemas e desafios que uma “nova tecnologia” trazia com ela. Naquele tempo eu já participava de alguns fóruns de discussão regionais e de outros internacionais em questões de redes e Internet, alguns deles criados no âmbito de LACNIC.

Quando começou a sua relação com LACNIC e como?

Minha relação com LACNIC começou desde sua fundação em 2002 em Montevidéu, embora essa relação fosse mais uma curiosidade minha por saber de que tratava um Registro Regional, que trabalhos realizava e que era o que propunham fazer desde e para a região. E olha como evoluiu essa visão, as minhas expectativas e a organização (seus objetivos, suas conquistas e sua comunidade) nos 15 anos que vieram depois.

Que papéis você exerceu na comunidade de LACNIC? Satisfez as suas expectativas? Que aspectos você destacaria?

Desde a sua criação, comecei a participar ativamente primeiro nos fóruns de discussão, e depois colaborando com o processo de desenvolvimento de políticas e propondo algumas outras. De 2009 a 2015 eu tive a oportunidade de servir à comunidade como moderador e co-moderador do Fórum Público de Políticas. Participei da maioria dos eventos regionais realizados (hoje duas vezes por ano) de uma maneira ativa em todas as instâncias dos mesmos e em particular, como instrutor de alguns tutoriais técnicos. Também pude colaborar fornecendo suporte, na medida das minhas possibilidades, para alguns autores de políticas em suas primeiras propostas. Sou co-fundador do Grupo de Operadores de Redes da região, que foi promovido por LACNIC, ISOC e a própria comunidade, e desde então eu tenho andado esta viagem longa e desafiante conjuntamente com LACNIC. Hoje continuo participando de todas as instâncias dos fóruns de políticas e como instrutor nos tutoriais, e neste período também desempenho o papel de membro da comunidade no comitê de revisão da “nova IANA” ou o PTI como é nomeada a partir da transição.

No que diz respeito às expectativas, não só foram preenchidas, mas pessoalmente acredito que foram ultrapassadas. Ser moderador do Fórum de Políticas, por exemplo, deixa uma experiência incalculável desde muitos pontos de vista, porque é uma tarefa que é feita em estreita relação com a comunidade, é da comunidade e para a comunidade. No caso da nossa região, eu sempre digo que visualizo a comunidade como uma grande família, em que na hora de debater as diferentes questões, sempre foi feito com seriedade e objetividade, onde todos aprendemos dos nossos sucessos e também dos nossos erros, e onde todos e cada um de nós contribuímos desde nosso lugar e possibilidades. Eu vi como todos nós deixamos um pouco de lado a pertença a um país, empresa ou organização e procuramos em conjunto, a melhor solução para os problemas que surgem com um objetivo comum como é o desenvolvimento da Internet e o acesso de todos à mesma em toda a nossa região.

Que papel acredita que a comunidade de LACNIC teve na administração dos recursos de numeração nesses 15 anos?

Para mim, LACNIC e a sua comunidade são o principal motor que impulsiona o desenvolvimento e sustentabilidade da Internet e seus recursos a nível regional. É a partir desta comunidade que são pensadas, debatidas e implementadas as políticas que regem a designação dos principais recursos da Internet regionais (como são, por exemplo, os endereços IPv4 e IPv6 e os números de Sistemas Autônomos). E não é limitado apenas a isso; existem inúmeros projetos, instâncias de formação, fóruns de discussão, participação ativa a nível internacional e muitas outras coisas que fazem com que a nossa comunidade seja muito ativa e reconhecida a nível mundial no que refere à Internet. E esse reconhecimento é uma conquista da própria comunidade e de LACNIC como organização que aglutina. É este ecossistema, estes processos de desenvolvimento que são, como dizemos comumente, “de baixo para cima”, de modo que é a comunidade quem tem o papel mais importante e o impulso necessário para fazer que as coisas aconteçam. E essa comunidade somos todos nós.

Que aspectos identificam à comunidade de LACNIC?

Além do mencionado acima, eu acrescentaria que é uma comunidade que nestes 15 anos aprendeu a trabalhar em conjunto e sinergicamente. Aprendemos que é normal e até sadio cometer erros e retificar para melhorar. Aprendemos que com o esforço conjunto podemos atingir tudo o proposto nos anos que já se passaram e o que está por vir. Acredito que é uma comunidade que tem amadurecido muito nesses anos junto a LACNIC e na qual é um prazer trabalhar e se sentir identificado e comprometido com ela.

Como imagina você a governança da Internet em 15 anos?

Se alguma coisa eu aprendi nos anos de vida da Internet, é que qualquer expectativa ficou muito, mas muito pequena, ao lado da realidade. Posso (ou quero) imaginar a nossa região conectada à Internet e a todas as pessoas com acesso à mesma. Isso, somado aos bilhões de dispositivos que se espera façam parte da Internet nos próximos 10 anos, irão trazer consigo um monte de desafios, problemas a serem resolvidos e políticas a serem desenvolvidas e gerenciadas. A Internet como a sua governança evoluem continuamente porque as necessidades mudam e as possibilidades aumentam exponencialmente. O papel da comunidade nessa evolução é indiscutível. Eu acho que em alguns aspectos devemos considerar modelos de governança ainda mais coordenados a nível mundial, por aquilo de que a Internet não respeita fronteiras geográficas, mas que a rede é apenas uma e, portanto, para a Internet o mundo é um só. Eu sempre disse que um não se conecta à Internet, mas que um (ou um dispositivo), uma vez conectado, faz parte da Internet, e esse, embora possa parecer a priori uma obviedade, é um dos conceitos mais determinantes de seu futuro: a ideia de quer todos nós somos a Internet.

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