Uma iniciativa de LACNIC na África

22/12/2016

Uma iniciativa de LACNIC na África

O projeto Simón, uma iniciativa de LACNIC para medir a conectividade à Internet na região, realizou uma pesquisa sobre o nível de interconexão das redes nos países da África.

O trabalho foi encarregado a Agustín Formoso, desenvolvedor de software da área de Tecnologia de LACNIC, quem apresentou os resultados dessa pesquisa no evento AFRINIC 25, realizado nas Ilhas Maurício (https://www.youtube.com/watch?v=uxGKbAOwSkM ).

Em diálogo com LACNIC News, Formoso garantiu que as informações coletadas durante a pesquisa permitem assegurar que as redes na África têm semelhanças com as da América Latina e o Caribe, como a troca de tráfego fora do continente.

Também apontou que os resultados permitem comparar a conectividade nos dois continentes.

O que é o projeto Simón? Como foi que ele surgiu?

O projeto Simón é uma iniciativa que oferece informações atualizadas e representativas sobre as medições de conectividade na região da América Latina e o Caribe (LAC). Foi ideado em bate-papos regionais de interconexão do ano 2009.  Hoje o projeto está crescendo e em procura de voluntários que queiram colaborar com o mesmo.

Como se pode colaborar com o projeto?

Todos os interessados em colaborar podem enviar um e-mail para agustin@lacnic.net, e serão incluídos em uma lista de participantes. Estamos prestes a começar a distribuir o nosso medidor web: um pequeno JavaScript que pode ser colocado em um site, e de modo transparente realiza medições de latência em diferentes pontos da região. Por agora, essa é a melhor forma de colaborar.

Como é medida a latência entre as redes?

Existem várias formas. A usada nesta pesquisa é a de enviar pacotes ICMP (Internet Control Message Protocol), desde várias origens e para vários destinos da região, e medir o tempo que se demora em obter uma resposta. Também, o projeto tem um medidor web que permite disparar medições HTTP desde buscadores da web. A medição ICMP e a medição web são duas perspectivas diferentes de olhar a rede, localizadas em capas lógicas diferentes, mas as duas refletem como é vista a rede pelo usuário final, já que as medições todas têm como origem os dispositivos de usuários comuns.

Para que serve medir a latência?

A latência é um bom indicador da eficácia no roteamento dos pacotes entre o origem e o destino. Bons valores de latência se correspondem com uma boa interconexão entre redes. Uma boa interconexão significa que o tráfego usa os recursos necessários da rede, não mais dos que precisa (como às vezes acontece); implica que o tráfego local se mantém local. Para o internauta isto se manifesta em uma melhor qualidade de acesso aos serviços. Embora existam muitas outras fontes que introduzem delay na Internet, acreditamos que o roteamento sub-ótimo é um dos fatores mais significativos a nível da rede.

A conectividade à Internet pode ser melhorada a partir dos resultados das medições de latência?

Pode, sim. Para que a Internet melhore em seu conjunto, primeiro devem melhorar as redes que a compõem.  Os resultados desta pesquisa são de especial interesse para os operadores de rede. Como operador, pode acessar os resultados que envolvem sua própria rede e baixar os dados. Se um operador puder identificar conexões sub-ótimas e a partir disso melhorar sua conectividade para outro país ou operador, então a Internet vai melhorar.

Por que a ideia de medir a latência nos países de AFRINIC?

Aproveitando a colaboração dos colegas da equipe de pesquisa de AFRINIC, nos perguntamos: por que não extrapolar as medições para a região da África? As redes na África têm algumas semelhanças com as da nossa região, como por exemplo, a troca de tráfego fora do continente.  Do outro lado, tem desvantagens próprias do continente: sua geografia, sua diversidade cultural e sua economia.  Realizar a pesquisa na África permite não apenas analisar o continente africano, mas também ter um nível de referencia para comparar a nossa própria região.  Para mais informações acerca da pesquisa acesse esta postagem em LACNIC Labs http://labs.lacnic.net/site/connectivity-in-africa.

Segundo a sua pesquisa. Como é a qualidade da Internet nos países de AFRINIC em que puderam medir a latência?

A conectividade na África resultou ter dois componentes: um deles bastante bom no norte da região (perto da Europa), e um muito ruim, principalmente na área central do continente. Esses resultados reforçam a hipótese de que estar localizado próximo a uma região de troca de tráfego melhora a conectividade para minha própria região; nesse caso os países africanos próximos à Europa mostraram estar mais bem conectados com a África mesmo.  Este fato ressalta a importância que tem manter local o tráfego local, e a referência que tem a implementação e o uso dos IXP na região.

É possível comparar os resultados das medições de latência entre as regiões de LACNIC e AFRINIC?

É possível sim graças a que foi usada exatamente a mesma metodologia que para a pesquisa na nossa região (http://labs.lacnic.net/site/connectivity-in-the-lac-region).

A primeira vista, quando as duas regiões forem comparadas, a América Latina e o Caribe têm melhores resultados de latência. Ao comparar, devem-se levar em conta as características geográficas de cada região: LAC tem uma alta densidade de países na América Central e o Caribe, fato que tende a favorecer as medições de latência, mas a África tem países grandes que estão uniformemente distribuídos pelo continente todo, levando a que seja mais difícil atingir uma conectividade semelhante à região LAC.

Do outro lado, as regiões têm semelhanças e diferenças no resultado da análise de “clusters” ou grupos de países que têm boa conectividade entre eles. As duas análises, a da LAC e a da África, retornaram um total de 4 clusters, quer dizer, 4 sub-regiões que têm boa conectividade dentro delas.  Por exemplo, um caso de um cluster da LAC é o formado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.  Estas regiões podem ser muito úteis na hora de decidir onde colocar um serviço ou conteúdo que atenda aos clientes da região: um serviço localizado no Brasil poderia atender clientes localizados nos países mencionados antes.  A maior diferença entre a LAC e a África em relação aos clusters radica em que os clusters da LAC têm valores de latência menores, e também a latência entre clusters é menor.

Os resultados desta pesquisa são o primeiro passo de uma análise de conectividade completo das regiões. As próximas etapas envolvem atravessar estes dados de latência oferecidos pelo projeto Simón com outras fontes de dados (como informações de roteamento), então poder inferir os fatores que influenciam uma boa /ruim conectividade.

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