Lento mas seguro: a implementação do IPv6 na América Latina e o Caribe

02/02/2015

Lento mas seguro: a implementação do IPv6 na América Latina e o Caribe

Por Jorge Villa *

Os criadores do IPv6 desde seus inícios, visionavam que a Internet que hoje desfrutamos, usaria esse novo protocolo como base da comunicação. Porém, isso  não tem acontecido, por diversos motivos, que vão de aspectos puramente econômicos até uma fraca compreensão da importância do IPv6 para a atual e futura Rede de Redes, em que a mobilidade e a integração das “coisas”, dados e processos estão mudando muitos paradigmas e provocando uma nova onda de inovação.

Apesar dos esforços realizados por promover e adotar o novo protocolo, no final de 2014, o tráfego sobre o IPv6 foi apenas 5% do total na Internet (segundo dados do Google). Embora pudesse parecer para alguns um número desprezível, é interessante avaliar a tendência de crescimento, já que no começo de 2013, apenas atingia 1% do tráfego. O crescimento nos últimos 24 meses tem sido quase exponencial, e o ritmo ainda é ascendente.

Combinando dados do Google e  APNIC, é possível perceber que as áreas com maior visibilidade no que diz respeito à penetração do IPv6 são a Bélgica, Suíça, Luxemburgo, Alemanha, Estados Unidos, Noruega, França, România e Peru (principal representante  da região na lista). Resulta interessante que áreas com trabalho estável quanto ao IPv6 como o Brasil e países asiáticos (destacando a China e a Índia) ainda não apareçam em posições de destaque na estatística.

Desde setembro do ano passado começaram a vigorar as políticas restritivas para designação de endereços IPv4 nos cinco Registros Regionais da Internet (RIR). Ainda quando é possível obter endereços IPv4 sob determinadas condições, resulta cada vez mais difícil propor crescimentos sustentados usando o IPv4. Salvo AFRINIC, o registro da África, os outros Registros Regionais dispõem de pouca quantidade de endereços, e o mesmo acontece com o Registro Central (operado pela IANA) que se alimenta de blocos de endereços IPv4 que têm sido recuperados para depois serem realocados de forma equitativa entre as cinco regiões geográficas em que o mundo da Internet está dividido. Essa situação deverá, necessariamente, levar a uma maior adoção do IPv6.

No caso particular da região da América Latina e o Caribe, a maior percentagem de designações IPv6 que tem realizado LACNIC foram para Provedores de Serviços da Internet (ISP)e Registros Locais da Internet (LIR), ocupando o segundo lugar no mundo nessa modalidade (depois da Europa). Quanto a designações para organizações que não revendem serviços a terceiros (conceitualizados como usuários finais nesse contexto), nossa região apenas supera a África. Apesar desses números, LACNIC detém a maior percentagem de usuários com blocos de endereços IPv4 e IPv6.

O fato de que a maioria de quem possui prefixos IPv6 na América Latina e o Caribe sejam LIR/ ISP pressagia que a região está atualmente em condições favoráveis para um crescimento significativo no uso desse protocolo. O Brasil lidera amplamente o total de designações, seguidos a distancia pela Argentina;  enquanto que a Colômbia, México e Chile estão no mesmo caminho mas alguns passos mais afastados.

No entanto, o esforço para integrar o IPv6 a grande escala na atual infraestrutura da Internet, não  pode ser realizada apenas por parte da comunidade de números da Internet. . É vital  no processo o envolvimento de  todos os setores tais como governos, sociedade civil, operadores de redes, desenvolvedores de aplicativos e conteúdos, entre outros.

A Corporação para a Designação de Números e Nomes na Internet (ICANN) é a responsável da coordenação global do sistema de identificadores únicos da Internet e de seu funcionamento estável e seguro.  Sua concepção inclui a participação de diferentes setores envolvidos e interessados no desenvolvimento da Internet. Nesse cenário, a única representação da comunidade de números é a Organização de Apoio para Endereços (ASO).

No Conselho de Endereços (AC) da ASO, hoje represento à região latino-americana e caribenha. Embora nossa principal responsabilidade está baseada na criação de políticas globais que dirigem o trabalho entre o Registro Central e os RIR, durante várias das últimas reuniões da ICANN (aproveitando a composição multissetorial da plateia) temos preparado e ministrado tutoriais sobre o IPv6. Da mesma forma, estabelecemos sessões de trabalho com os diferentes setores presentes, visibilizando o trabalho da comunidade de números. No próximo mês, em Singapura, será realizada a primeira reunião anual da ICANN em 2015. Felizmente, em junho será celebrada a segunda reunião em Buenos Aires, na Argentina, que deve ser uma nova oportunidade para promover a adoção do IPv6 na região.

Com o IPv6, a América Latina e o Caribe tem a oportunidade de participar com vantagem nessa mudança global da Internet. Devemos confiar em nossas forças e capacidades, obter resultados e não desperdiçar o momento, à espera de um guia por parte dos países mais desenvolvidos, porque mais uma vez ficaríamos para trás e não poderíamos implementá-lo corretamente.

  • Representante da região latino-americana e caribenha no Conselho de Endereços (AC) da ASO.
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