A importância das medições de latência na Internet
19/10/2022

Quem já trabalhou alguma vez tanto nas TI quanto nas telecomunicações está muito familiarizado com o uso de testes de ping e trace para diagnóstico inicial de troubleshoot em redes privadas, na maioria das vezes com a intenção de saber se um serviço ou determinado aplicativo está inoperante. No entanto, é muito comum que a utilidade dos testes de ping e trace para validar o desempenho dos serviços da Internet completos seja desconhecida. No nível do protocolo de rede, os testes de ping são baseados no ICMP (Internet Control Message Protocol) que é definido no RFC792 e basicamente mostra o tempo de resposta “roundtrip” (de ida e volta) que um pacote IP leva de uma rede de origem para uma rede de destino. Os famosos testes de trace também fazem parte do conjunto de protocolos IP e permitem ver os saltos (ou redes no meio) que um pacote IP usa para ir de uma rede de origem a uma rede de destino.
A União Internacional das Telecomunicações (ITU) leva em consideração a medição de latência para aplicativos de voz na Recomendação G.114. de 2003; esta recomendação já tem quase 20 anos e estava focada principalmente no desenvolvimento dos aplicativos de VoIP que há 20 anos estavam muito na moda com o nascimento da Internet. De acordo com esta recomendação para um aplicativo VoIP, um intervalo entre 150ms a 400ms “one-way-delay” (latência de uma via só) é um intervalo aceitável para o correto desempenho dos aplicativos VoIP, é importante ter presente que os testes de ping nos fornecem a latência “round-trip” ou de ida e volta, pelo que, pessoalmente, eu definiria um intervalo entre 75ms a 200ms roundtrip delay como um intervalo de latência aceitável para aplicativos VoIP.
No início de 2021, o LACNIC apresentou um estudo chamado “Conectividade na região LAC:2020” em que fez uma análise dos tempos de latência na Internet nos diferentes países da América Latina usando testes de ping desde os diferentes países. No caso do Panamá, os resultados obtidos pelo LACNIC chamaram poderosamente a nossa atenção. Para testes originados desde o Panamá para destinos fora do Panamá, as medições tiveram um atraso médio de ida e volta de 183ms, para testes com destino ao Panamá, as medições tiveram um atraso médio de 171ms, e para testes originados no Panamá com destino Panamá, as medições tiveram uma média de atraso de ida e volta de 87ms. À primeira vista podemos ver que estes tempos de resposta são funcionais para aplicativos VoIP. No entanto, a tecnologia evoluiu e hoje usamos a Internet para muito mais do que ligações telefônicas e videoconferências. Nos últimos 20 anos, o uso de novas tecnologias baseadas na Internet que demandam o que hoje conhecemos como “Low-Latency”, aplicativos como IoT (a Internet das Coisas), computação na nuvem, SD-WAN, cidades inteligentes, veículos autônomos, realidade virtual e realidade aumentada. Todos estes aplicativos demandam tempos de resposta realmente baixos quando conectados à Internet completa, tão baixo como de 10ms a 40ms de atraso de ida e volta -e até menos em alguns casos. Portanto, ao revisar novamente os tempos de latência obtidos pelo estudo de LACNIC no início de 2021 para o Panamá, eles não parecem mais tão bons se quisermos implementar essas novas tecnologias no futuro. Em particular, o resultado de testes com origem Panamá e destino Panamá de 87ms roundrip delay chamou nossa atenção: para um país tão pequeno como o Panamá encontramos tempos de resposta muito altos. Este estudo nos mostra a necessidade de otimizar a interconexão entre as diferentes operadoras dentro do Panamá para poder implementar com sucesso tecnologias de nova geração como IoT, cidades inteligentes, computação na nuvem, etc., etc.
O aspecto positivo de tudo isso é que, com o estudo realizado pelo LACNIC, temos um ponto de partida para fazer medições futuras e validar o progresso ao longo do tempo. Daí a importância das medições de latência na internet.